I SÉRIE — NÚMERO 102
18
Portanto, Sr. Presidente, aqui ficam manifestadas as grandes preocupações de Os Verdes em relação a
estes assuntos chamados «acordos de regime», mas que, de facto, em nada, em nada, vêm beneficiar as
portuguesas e os portugueses.
Nós, Os Verdes, aqui estaremos, na Assembleia da República, para trabalhar no sentido da melhoria da
qualidade de vida das pessoas e da valorização do nosso território.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Não temos feito, de resto, outra coisa.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Pedro
Soares, do Bloco de Esquerda.
O Sr. Pedro Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Nós, ao fim destes anos de modelo
territorial, só podemos chegar à conclusão de que este modelo territorial, baseado numa organização
administrativa que exclui um nível intermédio de administração e pulveriza, em centenas de autarquias locais, a
representação e a capacidade política territorial, chegou a um beco sem saída.
De facto, a situação que hoje vivemos é uma situação de grave diferença territorial, de falta de coesão
territorial, que afeta diretamente as pessoas que vivem num sítio ou outro do País, em função da sua própria
geografia. Aliás, em relação à pergunta do Sr. Deputado Santinho Pacheco, sobre se o PSD encarava este
acordo entre o Governo e o PSD no sentido da regionalização, a ausência de resposta do Sr. Deputado António
Costa Silva foi esclarecedora.
Protestos do Deputado do PSD Carlos Peixoto.
De facto, o que o PSD quer é manter a linha do ex-ministro Relvas, no sentido da liquidação da
regionalização, da liquidação de uma verdadeira descentralização e de uma verdadeira descentralização
administrativa do nosso País. Aliás, o Partido Socialista abandona o objetivo da regionalização, retira do seu
léxico a palavra «regionalização», chega ao ponto de abandonar o que está inscrito no próprio Programa do
Governo — a criação de autarquias metropolitanas, a correção dos erros de extinção das freguesias a régua e
esquadro. E porquê? Porque quer aceitar, porque está disponível para aceitar todas as imposições do PSD em
matéria de administração do território.
Aliás, o Partido Socialista está a ceder a um verdadeiro bullying territorial da direita, do PSD, sobre o Partido
Socialista. Este facto é a grande fratura que temos aqui, neste Parlamento. Toda esta cedência ao bullying
territorial do PSD resume-se, depois, a uma proposta. É uma proposta tão pífia que nem sequer chega para
suscitar ciúmes. Quando se fala em ciúmes, sinceramente, isto é tão fraquinho que não pode suscitar ciúmes!
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Ai não?!
O Sr. António Costa Silva (PSD): — É o que parece!
O Sr. Pedro Soares (BE): — Uma comissão independente para a descentralização? Mas, Srs. Deputados,
olhem bem para o que lá está escrito, não é para o título, olhem bem para o que lá está escrito! No objeto, há
dois pontos: avaliação, repito avaliação, «sobre a organização e funções do Estado» — nada diz sobre
descentralização, nada diz sobre regionalização; o outro objetivo, esse ainda mais caricato, é «programa de
desconcentração da localização de entidades e serviços públicos».
Sr.as e Srs. Deputados, isto devia ser objeto de uma intervenção da ASAE (Autoridade da Segurança
Alimentar e Económica), porque é publicidade enganosa! Então, os senhores colocam no título «Comissão
independente para a descentralização» e depois põe como objetivo um programa para a desconcentração? Não
vão querer que vos explique, com certeza, a diferença entre desconcentração e descentralização.