I SÉRIE — NÚMERO 15
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A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr. Deputado, peço-lhe para concluir, por favor. Já terminou o seu
tempo.
O Sr. Carlos Matias (Bloco de Esquerda): — Vou concluir, Sr.ª Presidente.
O que nos parece estranho, pois, colide, por exemplo, com a responsabilização, em caso de sociedades de
responsabilidade limitada — exatamente, limitada! — à respetiva entrada de capital na sociedade.
Em síntese, do ponto de vista do Bloco de Esquerda, o Governo apresentou aqui uma proposta que, tal como
está aqui, neste momento, não serve bem os interesses das pescas portuguesas.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra o Sr. Deputado João Dias, do PCP, para uma
intervenção.
O Sr. João Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: Perante esta
proposta, é perfeitamente legítimo que o setor da pesca se sinta ainda mais abandonado. De facto, muitas são
as queixas do setor que espera há muito por respostas que tardam em chegar e, a cada dia que passa, o
sentimento de asfixia aumenta.
Contudo, discutimos hoje, aqui, a proposta onde o Governo vem solicitar a autorização para estabelecer o
regime sancionatório aplicável ao exercício da atividade da pesca comercial marítima. Certamente será uma
proposta favorável para a pesca comercial mas não nos parece que o mesmo se possa dizer para as pescas
portuguesas, para a pequena pesca, para a pesca artesanal e costeira.
Sr. Secretário de Estado, são pescas de dimensões diferentes. São pescas que não podem admitir a mesma
regulação no que respeita à fiscalização, ao regime de coimas, etc. São pescas onde é desaconselhada a
homogeneidade na avaliação das infrações, na dimensão das coimas, nos procedimentos burocráticos, etc.
Naturalmente, as pescas e, sobretudo, as águas territoriais portuguesas precisam de fiscalização, mas uma
fiscalização a sério, contra a predação efetuada pela pesca industrial, aqui dita «comercial», sobretudo de outros
países.
Como sabemos, o PCP tem insistido, acima de tudo por razões orçamentais, que são muitas as carências
de meios, de barcos, de equipamentos e de recursos humanos necessários para a defesa adequada do
património piscatório nacional.
Ora, esta é a intervenção prioritária e necessária do Estado. Mas não! A preocupação é a de aumentar as
coimas. Não custa nada e até é bem mais fácil!
O que aqui se propõe é uma alteração de fundo da regulação da atividade piscatória, segundo as regras da
política comum de pescas e do Tribunal de Contas Europeu, nomeadamente para forçar o sistema de pontos.
O Governo acha que, com este regulamento, está a praticar um ato patriótico para os pequenos armadores
e pescadores?
As pescas portuguesas não precisam de mais coimas, de mais burocracia, mas de outras condições que
rentabilizem a nossa atividade piscatória.
Dou-lhe exemplos, Sr. Secretário de Estado: fundos para a renovação e modernização da frota; melhoria das
condições em terra — portos, barras dragadas, instalações de apoio aos pescadores; melhoria substancial do
preço do peixe em primeira venda, em lota, e valorização do pescado; formação e condições laborais
substancialmente melhoradas; redução dos custos operacionais, nomeadamente dos combustíveis.
Enfim, são estes os problemas do setor que o Governo herdou, resultado da política de direita dos governos
do PS, do PSD e do CDS, mas que, lamentavelmente, quando estamos a caminhar para o final da Legislatura,
vai deixar integralmente por resolver, apesar de todas as condições políticas e financeiras para que tivessem,
em grande parte, uma resposta adequada.
Mas se os outros partidos aprovarem esta proposta de lei, uma coisa é certa: vai deixar-lhes a permanente
ameaça de colossais coimas e maiores interdições ao exercício da pesca, que é o sustento da vida daqueles
pescadores. Pelo PCP, tal não acontecerá e votaremos contra.