I SÉRIE — NÚMERO 19
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Mas diz-nos a direita — repetiu-o várias vezes o PSD, pela voz do Deputado Hugo Lopes Soares ou do
Deputado António Leitão Amaro — que há um aumento de impostos neste Orçamento do Estado. Ora, a UTAO
(Unidade Técnica de Apoio Orçamental) diz que «o aumento projetado para os impostos indiretos é compensado
por um desagravamento da carga fiscal sobre a forma de impostos diretos e, no cômputo geral, de 2018 para
2019, a carga fiscal baixa.»
Sr.as e Srs. Deputados, que tanto se têm agarrado ao relatório da UTAO para fazer perguntas ao Governo,
parece que esqueceram esta parte, que é a conclusão óbvia: é mentira quando dizem que há um aumento da
carga fiscal para 2019! É mentira! Não tenho outra forma de o dizer.
Aplausos do BE.
Sr.as e Srs. Deputados, não há emojis para tamanho descaramento da direita, neste debate. Não há! De
facto, não há!
Sr. Primeiro-Ministro, devo dizer-lhe que nos orgulhamos quando ouvimos algumas afirmações de membros
do Governo. Por exemplo, quando o Sr. Primeiro-Ministro dizia, ainda há dias, que a direita defende que, para
aumentar a competitividade do País, é preciso baixar salários e fragilizar direitos laborais. E dizia o Sr. Primeiro-
Ministro que a verdade é que aumentámos o salário mínimo em 2016, em 2017, este ano e, fiquem a saber,
vamos aumentá-lo em 2019. Orgulhamo-nos destas palavras, porque o Sr. Primeiro-Ministro não foi a eleições
com nenhuma destas propostas de aumento, com nenhuma delas.
Orgulhamo-nos, por exemplo, quando ouvimos o Ministro Mário Centeno dizer que este Orçamento completa
um enorme alívio fiscal porque foi a eleições para manter por mais tempo a sobretaxa de IRS e rejeitava — e
rejeitou durante vários anos — qualquer alteração dos escalões de IRS.
Orgulhamo-nos quando ouvimos o Sr. Ministro dizer que até vai reduzir o ISP porque, ainda há meio ano
atrás, nos dizia que era impossível, que era disso que dependiam as contas públicas e, por isso, orgulhamo-nos
destas mudanças de posição.
Orgulhamo-nos, por exemplo, quando o Sr. Ministro Manuel Heitor vem agora dizer que o ensino superior é,
de facto, uma obrigatoriedade e o seu acesso deve ser livre. No entanto, só na 25.ª hora da negociação deste
Orçamento do Estado é que o Governo aceitou reduzir o valor das propinas.
Orgulhamo-nos quando o Ministro Vieira da Silva vem dizer que a atualização automática das pensões e o
aumento extraordinário das pensões garantem a recuperação do poder de compra — nas eleições prometia
congelar as pensões durante 4 anos! — e vai repetir isso daqui a poucas horas, quando fizer o encerramento
deste debate.
Por isso, destas palavras concluímos que os grandes vencedores destes últimos anos foram, de facto, as
cidadãs e os cidadãos, as eleitoras e os eleitores em Portugal que disseram que havia uma alternativa à
desistência do PSD e do CDS mas também alguma apatia do PS no que toca a lutar por medidas de progresso.
O Sr. Heitor de Sousa (PSD): — Muito bem!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Foi essa alteração de fundo que resultou numa mudança das políticas,
porque deu à esquerda a capacidade de influenciar nas escolhas orçamentais.
Por isso, quando olhamos para os resultados económicos, desde 2015, há uma dúvida que paira no ar, que
é a seguinte: eles aconteceram com o Partido Socialista ou apesar do Partido Socialista? É que demasiadas
vezes ouvimos dizer que a grande virtude do Partido Socialista é ser o ABS (anti-lock braking system), o travão
destas escolhas orçamentais e que é nesse travão que está a virtude.
O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Somos a embraiagem!
A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Não nos podemos despenhar!