I SÉRIE — NÚMERO 19
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Dizia ontem o Sr. Deputado Telmo Correia que há lá fora muito descontentamento. É verdade. Há
descontentamento de muitos setores profissionais e das populações pela subsistência de problemas que os
senhores agravaram e que o atual Governo tarda em resolver.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Ah!…
O Sr. António Filipe (PCP) — O PCP é solidário com essas manifestações de descontentamento, porque é
com a luta dos trabalhadores e do povo que «o mundo pula e avança». Mas não é verdade que não houvesse
descontentamento durante o Governo anterior. Se não tivesse havido descontentamento e se esse
descontentamento não se tivesse manifestado nas urnas, os senhores não teriam sido afastados do Governo
como foram e, em vez de avanços, estaríamos hoje a discutir retrocessos.
Aplausos do PCP.
Contando os Deputados do PSD e do CDS que dizem que o Orçamento é eleitoralista e os que dizem que o
Orçamento é de austeridade, a direita acaba empatada e enredada num discurso caótico e sem sentido.
Ouvimos, do PSD e do CDS, dizer que este Orçamento é uma oportunidade perdida, mas ficamos sem
perceber que raio de oportunidade é essa.
Se o PSD e o CDS querem apontar insuficiências nesta proposta de Orçamento do Estado, basta ouvirem
com atenção as intervenções do PCP. Somos os primeiros a considerar que esta proposta de Orçamento,
pretendendo permanecer fiel aos ditames de Bruxelas e não beliscar os interesses do grande capital e do
patronato, limita gravemente as possibilidades de resolução de problemas sociais com que o País se confronta
e que carecem de resolução urgente.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. António Filipe (PCP) — O PCP é o primeiro a afirmar que falta investimento no Serviço Nacional de
Saúde,…
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — E é o primeiro a votar!
O Sr. António Filipe (PCP) — … na escola pública, no ensino superior e na investigação, na contratação
dos funcionários necessários ao funcionamento dos serviços públicos, nas infraestruturas, nos transportes
públicos, na justiça, nas forças e serviços de segurança, no ordenamento florestal, no apoio às atividades
produtivas, ao mundo rural e à agricultura familiar.
Mais: dizemos que são necessárias medidas de justiça fiscal que aliviem a tributação sobre os rendimentos
do trabalho e que aumentem a tributação sobre as atividades especulativas, os grandes lucros e as grandes
fortunas e que permitam canalizar recursos para o investimento público socialmente necessário.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem dito!
O Sr. António Filipe (PCP) — Estas insuficiências que apontamos e o descontentamento social que se
manifesta com a falta de resolução de problemas prementes devem interpelar o Partido Socialista para que os
leve muito a sério e para que, no debate na especialidade que temos pela frente nas próximas semanas, não
desperdice a oportunidade de melhorar esta proposta de Orçamento juntando os seus votos às propostas que
o PCP não deixará de fazer com esse objetivo.
Mas estarão o PSD e o CDS disponíveis para apoiar políticas que aumentem o investimento público e
contribuam para a redução das desigualdades? Todos sabemos que não estão.
O PSD e o CDS, da boca para fora, exigem um Orçamento que seja exatamente o contrário do que seria se
estivessem no Governo, ao mesmo tempo que criticam o Orçamento por não conter aquilo que certamente
rejeitariam se contivesse.