I SÉRIE — NÚMERO 23
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De facto, a sinistralidade rodoviária disparou com mais de 10 000 acidentes por ano, com muitas vítimas
mortais, muitos feridos graves e sempre a crescer. Efetivamente, ainda é uma obscenidade que o Governo tenha
de pagar todos os anos cerca de 40 milhões de euros à concessionária privada. É o maior crime económico,
social e financeiro que se pratica no Algarve. E os Srs. Deputados do PS, do PSD e do CDS têm agora
oportunidade de se redimirem, aprovando a proposta que o Bloco aqui apresenta para se eliminarem as
portagens.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Segue-se o artigo 255.º da proposta de lei.
Tem a palavra o Sr. Deputado Emídio Guerreiro, do PSD.
O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados,
no que respeita à energia, este Orçamento é «muita parra e pouca uva». Anunciaram a redução do IVA, mas,
afinal, a redução é de apenas 0,80 €, e só para quem tem contadores de 3,45 kVA, a tal potência que, segundo
a ERSE, não é adequada para famílias com três ou mais membros. Ou seja, «a montanha pariu um rato» ou,
melhor ainda, o Bloco «engoliu um sapo».
Protestos do BE.
Em face deste flop, o Governo no seu tom eleiçoeiro habitual, informou que a fatura da eletricidade seria
reduzida, já não por via da redução do IVA, mas através da aplicação de receitas adicionais, originadas na
redução de isenção do ISP (imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos) aos centros electroprodutores
e da canalização da receita da CESE (Contribuição Extraordinária sobre o Setor Energético) para a redução da
tarifa energética de 2019.
O que o Governo não explicou nem disse aos portugueses é que estas reduções não provêm de qualquer
reforma estrutural, têm origem em receitas extraordinárias, são voláteis e incertas. A aplicação de reduções
desta natureza a um único exercício tarifário é apenas fogo de vista, uma medida eleitoralista de vistas curtas
que não contribui para a sustentabilidade da redução do défice tarifário.
O Governo, ao mesmo que anuncia uma intenção de investir na descarbonização da economia, propõe o
alargamento da CESE aos produtores de energia renovável numa contradição insanável. Como é possível
incentivar a descarbonização se penalizamos as energias renováveis? Trata-se, aliás, de um alargamento que
representa uma dupla tributação a um setor que, desde 2014, paga já 30 milhões de euros por ano para a
redução da dívida tarifária.
Mas o Bloco vai mais longe e propõe o alargamento da CESE a produtores de energia eólica, cujas licenças
foram atribuídas por concurso público internacional, pondo em causa a credibilidade internacional de Portugal
face ao investimento estrangeiro.
O PSD é a favor da descarbonização da economia e do cumprimento das metas ambientais assumidas por
Portugal, objetivos que, na generalidade, ficam prejudicadas com este Orçamento.
Sem prejuízo, propomos que, pelo menos qualquer verba adicional originada, quer na redução da isenção
do ISP aos centros electroprodutores, quer na receita da CESE, seja totalmente aplicada na redução do défice
tarifário plurianual. Só assim será possível manter de forma sustentável a redução da dívida do setor energético.
O Governo mais não faz do que utilizar receitas extraordinárias para a gestão corrente, sem reduzir o défice
tarifário, sem atacar de frente este défice problemático com origem nas decisões políticas de 2006. A
sustentabilidade do sistema elétrico nunca será alcançada e estaremos a adiar problemas para os anos
vindouros.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Costa, do Bloco de Esquerda.