I SÉRIE — NÚMERO 24
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à precariedade. Reforçou-se a ação social escolar, a contratação de funcionários nas escolas. Foi possível
reduzir taxas moderadoras, alargar a contratação de médicos e enfermeiros, reduzir os custos com
medicamentos, fixar compromissos para a construção de novos hospitais. Foi possível assegurar a gratuitidade
do acesso aos museus aos domingos e feriados e o reforço do apoio à criação artística. Aliviou-se o IRS (imposto
sobre o rendimento das pessoas singulares) sobre os rendimentos do trabalho e os mais baixos rendimentos,
reduziu-se e eliminou-se o pagamento especial por conta, que pesava sobre as micro, pequenas e médias
empresas, reduziu-se o IVA da restauração. Foi possível assegurar o apoio à agricultura familiar, a redução dos
custos com combustíveis para agricultores e pescadores, bem como medidas de valorização do pescado e dos
rendimentos dos pescadores, entre outras.
Cortaram-se benefícios aos fundos imobiliários, passou-se a tributar o património imobiliário de valor mais
elevado, com a introdução do adicional ao IMI (imposto municipal sobre imóveis), e aumentou-se a tributação
sobre os grandes lucros, por via do aumento da derrama do IRC (imposto sobre o rendimento das pessoas
coletivas). Foram passos tímidos, na hora de taxar com eficácia o grande capital, e que, mesmo assim,
encontraram resistência, como, aliás, se provou anteontem com a decisão de não aprovar um novo escalão da
derrama para empresas com lucros de muitos milhões.
Registamos novos passos positivos dados por este Orçamento do Estado para 2019: a gratuitidade dos
manuais escolares em toda a escolaridade obrigatória; um novo aumento extraordinário de pensões de reforma
já em janeiro; novos avanços no abono de família e no abono pré-natal; a redução do valor das propinas e o
alargamento do complemento para alojamento de estudantes com bolsa; a redução do IVA na cultura; o novo
passo no regime de reformas antecipadas para longas carreiras; a perspetiva aberta de redução significativa
nos preços dos transportes públicos; a eliminação do pagamento especial por conta para os pequenos e médios
empresários; a majoração do abono de família até aos 6 anos e o alargamento do abono pré-natal ao 4.º escalão;
o início da construção de uma rede pública de apoio a cuidadores informais.
Sim, o caminho da defesa e da valorização dos direitos é o caminho que é preciso percorrer e alargar para
dar resposta aos problemas nacionais, mas os avanços alcançados não devem iludir o que se deveria ter feito
para ir mais longe. Não ignoramos o que o Governo e o PS não quiseram adotar, o que deixaram por cumprir
ou mantiveram adiado.
Ao contrário do que é afirmado, responder plenamente aos problemas do País, vencer défices estruturais e
assegurar o desenvolvimento não são objetivos que possam ser alcançados com o País amarrado às
orientações e imposições da União Europeia, submetido aos constrangimentos do euro, das suas regras, da
governação económica, dos semestres europeus, dos vistos prévios aos Orçamentos, dos programas de
estabilidade, todos cada vez mais constrangedores e insistindo em manter opções de redução do défice
desligadas das necessidades do País.
Cada décima hipotecada à redução forçada do défice são milhões retirados ao investimento, ao
financiamento dos serviços públicos, ao apoio à produção e ao combate às injustiças e às desigualdades sociais,
que se mantêm enormes.
A resposta aos problemas do País não se faz com uma política de recusa da superação dos constrangimentos
de uma dívida pública sufocante e insustentável.
Também não se faz com uma política que opta por continuar a drenar centenas de milhões de euros de
recursos públicos para o setor financeiro, tal como opta por não enfrentar o capital monopolista, seja pela recusa
da reversão das PPP (parcerias público-privadas), seja pela manutenção do domínio dos grupos monopolistas
em setores estratégicos da economia. Aliás, esta situação conduziu ao crescente domínio do grande capital,
sobretudo estrangeiro, sobre a economia do País, o que leva a uma permanente saída de milhares de milhões
de euros para o estrangeiro em pagamentos de dividendos, em prejuízo do investimento no País, domínio este
que conduz à manutenção de profundas injustiças sociais.
A situação da distribuição da riqueza no nosso País é reveladora: em 2017, os salários apenas
representavam 34,6% nessa distribuição e os rendimentos de capital acumulavam 41,6% dessa riqueza.
Esta situação mostra que não basta fazer crescer a economia, que ainda estamos muito aquém da
concretização de uma verdadeira política de valorização do trabalho e dos trabalhadores. A sua concretização
exige a valorização dos salários, o direito à estabilidade e segurança no emprego, o decisivo combate à
precariedade e à desregulação dos horários de trabalho, a eliminação das normas gravosas da legislação
laboral.