21 DE DEZEMBRO DE 2018
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que o PCP não acompanha, mas relativamente a algumas outras confesso que continuo a não perceber por que
razão é que não mereceram o voto do PCP, aliás, até compreendo, foi porque vieram do CDS.
Vou dar-lhe três exemplos, para não estarmos a discutir em abstrato.
Quanto à proposta de majoração até aos seis anos do abono de família para famílias numerosas, que são
as mais visadas pela pobreza em Portugal, com as taxas de risco de pobreza mais elevadas em Portugal, o
PCP votou contra.
Quanto à proposta para flexibilização da oferta de creches, para que se possam adequar aos horários das
famílias, o PCP votou contra.
Protestos do Deputado do PCP Jorge Machado.
No que se refere à proposta para premiar empresas que vão além da lei, não que cumpram a lei mas que
vão além da lei, na conciliação entre a família e o trabalho, o PCP votou contra.
Finalmente, Sr.ª Deputada, para terminar, queria apenas perguntar-lhe se não estranhou ver o Governo
apresentar este Programa 3 em Linha, quando estamos na Assembleia da República há vários meses a estudar
diversas medidas, tendo sido ouvidas cerca de 30 instituições, com horas e horas de trabalho parlamentar, com
um pedido de adiamento, pelo Partido Socialista, da votação que o PCP e o CDS tinham pedido que ocorresse
ainda este ano, e o PS, depois de pedir o adiamento dessa votação, apresenta algumas propostas que estão
em discussão aqui, no Parlamento.
Gostava de saber se o PCP, uma vez que apoia este Governo, foi ouvido no delinear dessas medidas e se
concorda com esta atuação do Governo.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr.ª Deputada Rita Rato, tem a palavra para responder.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Filipe Anacoreta Correia, agradeço a questão que
me coloca.
Acho que fui clara na intervenção que fiz e até fui, creio, muito objetiva, quando disse que grande parte das
medidas que foram apresentadas coincide em absoluto com aquilo que o PSD e o CDS apresentavam
relativamente a estas matérias. Medidas como as do teletrabalho, do afastamento das mulheres do mercado de
trabalho, isso, em tudo coincidia com matérias que o PSD e o CDS defendiam, aliás, defendiam sujeitar isso ao
acordo e ao veto das confederações patronais em sede de concertação social. Foi isso que eu disse e que
mantenho.
Da parte do PCP, a leitura que fazemos sobre isto é a de que discutir as matérias de articulação da vida
familiar e da vida profissional sem ter como objetivo reduzir o horário de trabalho, sem ter como objetivo revogar
bancos de horas, que prolongam o horário de trabalho e cortam os rendimentos dos trabalhadores, sem discutir
a garantia e o compromisso do respeito integral pelos direitos de maternidade e de paternidade, é uma discussão
que, da nossa parte, não é séria e fica completamente aquém daquela que é hoje a realidade nos locais de
trabalho.
Mas não deixa de ser interessante, Sr. Deputado, que, da parte do PSD e do CDS, não haja uma palavra
para criticar um patronato que viola a lei e a Constituição deste País. Aliás, para o CDS, o patronato é intocável
e, Sr. Deputado, chegámos a um ponto em que até o Bispo do Porto, recentemente, condenou a prática
inaceitável de uma empresa que está a sujeitar a um tratamento indigno uma operária corticeira, que é a Cristina
Tavares. O Bispo do Porto toma posição, condena esta prática, por parte desta empresa, no distrito de Aveiro,
mas da parte do CDS, sobre esta matéria e sobre estas práticas, por parte destas empresas, temos zero.
Relativamente a esta matéria, para o PCP, é muito claro: discutir o respeito por direitos de maternidade e de
paternidade é, em primeiro lugar, garantir o cumprimento da lei e ter mão firme para punir e sancionar as
empresas que não cumprem a lei e a Constituição. Tudo o resto é ser cúmplice deste processo.
Aplausos do PCP.