I SÉRIE — NÚMERO 35
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coletivas territoriais, que visam o interesse coletivo, sujeitas a um grande e elevado escrutínio e a uma tutela de
legalidade.
Também não é verdade que a Assembleia da República tenha sido colocada à margem deste processo. Ela
foi, aliás, central neste processo, quer organizando conferências sobre a descentralização, quer na discussão,
na generalidade, da lei-quadro e da Lei das Finanças Locais revista, na criação da Comissão Independente para
a Descentralização, bem como nas largas dezenas de audições realizadas na especialidade quer na 11.ª
Comissão, quer na 8.ª Comissão, a da educação.
Carecem, igualmente, de fundamento as afirmações constantes nas diversas apreciações parlamentares —
que consideram o financiamento insuficiente para as necessidades —, uma vez que quer a lei-quadro quer a Lei
das Finanças Locais revista densificam o Fundo de Financiamento da Descentralização e os decretos setoriais,
que implicam transferências financeiras diretas, asseguram o financiamento das novas competências, numa
justa repartição de recursos, onde estão salvaguardados os meios humanos e materiais. Aliás, os decretos
setoriais determinam, após pronúncia prévia dos municípios, a publicação dos mapas com os montantes a
transferir por setor para o ano de 2019, assegurando-se por esta via a necessária participação dos municípios
na fixação do respetivo envelope financeiro.
Os autores destas apreciações parlamentares parecem esquecer-se também que em todos os Orçamentos
do Estado fomos aumentando as transferências financeiras para as autarquias locais, atingindo em 2019 o maior
aumento da década, e que foram criadas novas fontes de receita visando o aumento de convergência na
participação das autarquias locais nas receitas fiscais. Foram, e estão a ser, quatro anos de retoma da
autonomia do poder local.
Foi também sempre com este espírito de defesa dos interesses e direitos dos cidadãos que o Governo e o
PSD celebraram um acordo no dia 18 de abril, que visou a mudança de paradigma de um Estado centralista
para um Estado que será mais descentralizado e que será capaz de gerar mais participação cidadã.
Com a aprovação da Lei n.º 50/2018 nesta Câmara, estabeleceu-se também, no n.º 1 do artigo 4.º, que a
concretização de transferências seria efetuada após acordo com o Governo e a ANMP, através de diplomas
legais de âmbito setorial.
O Governo está, assim, a cumprir aquilo que a Assembleia da República aprovou e, neste domínio, não há
boas ou más maiorias, mas tão-somente a democracia a funcionar.
Tal como referiu o Sr. Presidente da República, a proximidade reforça o desenvolvimento económico e social
e aprofunda a unidade nacional de solidariedade entre todos os portugueses, laços que queremos aprofundar,
porque confiamos no poder local, um dos maiores sucessos da nossa democracia.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem agora a palavra o Sr. Deputado Paulo Trigo Pereira.
O Sr. Paulo Trigo Pereira (N insc.): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Ministro da Administração
Interna e Srs. Secretários de Estado: A descentralização é uma reforma estrutural do Estado que, se tudo correr
bem, deverá durar até 2021, ou seja, duas legislaturas.
Há acordos políticos que se fazem, e bem, fora da Assembleia da República, mas, em matérias estruturantes,
o papel da Assembleia da República é essencial. Importa, por isso, tornar claro o que pode ser feito nesta
Legislatura e o que deve ficar para a próxima.
É positiva a apreciação parlamentar dos decretos-leis sobre a descentralização, pois coloca bem a
centralidade política do processo de descentralização onde ele deve estar, na Assembleia da República.
A apreciação dos decretos-leis setoriais com reduzido impacto financeiro deve ser feita de forma tão
participada e rápida quanto possível, para lhe dar continuidade.
O que, infelizmente, já não pode ser feito nesta Legislatura é uma nova Lei das Finanças Locais. Isto implica
que não pode nem deve haver descentralização nas áreas da educação e da saúde, que têm largo impacto
financeiro.
Segundo alguns números de um estudo que desconheço, mas que já veio nos jornais — um estudo feito pela
Secretaria de Estado das Autarquias Locais e enviado para a Associação Nacional de Municípios Portugueses,
ao qual o Parlamento não teve acesso oficial —, só na educação, estamos a falar de 797 milhões de euros.