I SÉRIE — NÚMERO 49
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Lê-se no artigo 4.º, n.º 2, alínea a), que «incumbe ao Estado assegurar uma oferta estável de alimentos, em
particular de alimentos saudáveis, a um preço justo e acessível, tendo em conta os rendimentos mínimos da
população». Lá está o que dizia há pouco, a tal economia, o caminho para a economia planificada.
A verdade é que nós temos absolutamente consagrado na Declaração Universal dos Direitos do Homem o
direito à alimentação, não o direito à alimentação adequada, porque essa temos de definir qual é e saber quem
é que define.
Por outro lado, não percebemos como é que se vai incorporar no novo sistema, no sistema proposto pelo
Bloco de Esquerda, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, que já existe, já está criado.
Contem com o PSD para defender políticas de alimentação equilibradas, saudáveis, que procurem promover
campanhas de formação, de informação, que combatam e previnam a obesidade, que promovam a atividade
física, mas não nos peçam para votar uma iniciativa legislativa que vai catalogar o que são alimentos bons ou
menos bons. Privilegiamos sempre, mas sempre, a iniciativa privada e a escolha do cidadão.
A verdade é que o Estado deve dar o seu exemplo, concordamos com isso, deve promover também, ele
próprio, esse tipo de alimentação nas suas cantinas escolares, nos seus serviços públicos. Mas não compete
ao Estado estar a dizer que alimentos é que se devem consumir em detrimento de outros. Pode falar em
categorias de alimentos, não pode é dizer que alimentos. Porquê?…
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — Então, vá ao site da DGS (Direção-Geral de Saúde)!
O Sr. Pedro do Ó Ramos (PSD): — Porque estamos a falar do direito à alimentação, que, esse sim, deve
ser o pressuposto de qualquer Estado, ou seja, garantir que todos tenham direito à alimentação. É essa
alimentação que deve ser assegurada por uma atividade nobre, que é a da agricultura, que tem essa atividade
de futuro, de alimentar a nossa população.
Contem sempre connosco para promover atividades saudáveis e para promover uma alimentação cada vez
melhor, não contem connosco para catalogar produtos.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa
Apolónia, de Os Verdes.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Está em
discussão um projeto do Bloco de Esquerda sobre a lei de bases do direito humano à alimentação e Os Verdes
gostariam de dizer que, quando falamos de direito à alimentação, falamos do direito a poder ter acesso a
alimentos em quantidade suficiente, a alimentos adequados e saudáveis e, portanto, falamos de uma
componente de quantidade e de qualidade, necessariamente.
Ora, sabemos que, ainda hoje, existem muitas pessoas, designadamente no nosso País, que, fruto da sua
situação de pobreza — acontece isso a muitos idosos, no seu dia a dia —, ainda têm de fazer uma opção entre
comprar medicamentos ou comprar alimentos.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Exatamente!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Isto é profundamente preocupante.
Para garantir o direito à alimentação, há aqui uma componente de intervenção social e de garantia de direitos
sociais que não podem ser descurados. Portanto, o combate à pobreza é determinante, é mesmo uma base
para garantir o direito à alimentação.
Há, efetivamente, outras componentes determinantes, designadamente a da sensibilização dos cidadãos, da
informação, da educação, mas este é o sustentáculo, digamos assim, que tem de ser criado para garantir o
direito à alimentação.
Mas também não podemos ir na onda das grandes publicidades e parangonas das multinacionais do setor
agroalimentar, que consideram que, para combater a fome no mundo, é preciso degradar os nossos solos e o
nosso ambiente, designadamente com os organismos geneticamente modificados, pondo em causa, por outro