22 DE FEVEREIRO DE 2019
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O ataque ao serviço público postal não começou em 2013, nem foi desencadeado apenas pelo Governo
anterior, é um processo que vem de longe, laboriosamente levado a cabo por sucessivos governos ao longo de
dezenas de anos, com a prestimosa ajuda da União Europeia e das suas imposições de mercantilização e de
liberalização.
Foi para preparar a privatização dos CTT que, ao longo dos anos, passo a passo, governos e administrações
foram fazendo o seu caminho: legislação aprovada e alterada; contrato de concessão assinado e alterado;
competências de autoridade reguladora aprovadas e retiradas; estações dos correios encerradas; património
alienado; postos de trabalho destruídos; serviços degradados; populações, comunidades, empresas deixadas
ao abandono em sucessivas vagas de assalto ao serviço público.
É particularmente significativo que o ano de 2013 tenha ficado marcado pelo encerramento de 125 estações
dos correios, que eram mais de 1000 no início do século XXI e que agora são pouco mais de 500. Com o ano
de 2013, ano da privatização dos CTT, chegou essa nova realidade, tão moderna para o PSD e para o CDS,
que é o número crescente de concelhos sem nenhuma estação dos correios. Já são 33 os concelhos sem a
presença dos CTT e, segundo a própria administração da empresa, prevê-se que, no curto prazo, cheguem a
48 os concelhos sem correios. Só em 2018 encerraram mais de 70 estações dos correios.
O PSD e o CDS, que festejaram a privatização dos CTT e que, pelos vistos, ainda continuam a festejar,
demonstram o seu absoluto desprezo pelas populações e pelos seus protestos. Para eles, tudo se resume a um
contrato de concessão que ficou devidamente escancarado à subcontratação, à alienação, ao encerramento de
serviços.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — E se alguém vier falar do que está a acontecer, das reclamações que disparam
mas que a administração diz serem menos, da contabilidade enganosa que põe no serviço postal a fatura do
banco postal, do atendimento ao público entregue a padarias, a ourivesarias, a estabelecimentos de bebidas,
sem qualquer preocupação, logo o PSD e o CDS tratam de carimbar quem assim fala como «caixa de
ressonância do PCP».
Não, Srs. Deputados, a verdade que está à vista é que vem demonstrar a razão dos alertas e das denúncias
do PCP.
Aplausos do PCP.
Entretanto, o PS, no Governo e na Assembleia da República, continua a empurrar para um destes dias um
problema cada vez mais grave e que exige uma resposta concreta que vá além dos grupos de trabalho, de
reflexão e de revisão que tem vindo a contrapor à nossa proposta, para continuarem a rejeitar a reversão da
privatização dos CTT.
O que as populações, os trabalhadores, as empresas reclamam é que não se continue nessa atitude de
deixar arder para depois, um dia, discutir as cinzas. Por isso, o que se exige é que não se repita, também nesta
matéria, essa lamentável convergência PS-PSD-CDS que, até agora, se tem verificado.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Para o PCP, a situação é muito clara. O problema que foi criado não
se resolve com medidas pontuais mas, sim, com opções políticas de fundo. O problema central não é a
concessão, nem a regulação, é a privatização. Quando a gestão privada prossegue o desmantelamento do
serviço público, o que é preciso é defender o serviço público e a própria empresa, recuperando-a para o controlo
público.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Quando os CTT encerram a estação dos correios e entregam o serviço à padaria,
a solução não é certificar a padaria e dar formação ao padeiro, é reabrir a estação e trazer de volta o carteiro, o
técnico postal e de gestão e todos os trabalhadores dos CTT que fazem falta!