I SÉRIE — NÚMERO 57
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O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Teresa Caeiro,
do CDS-PP.
A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra, gostaria de interpelá-la sobre as
incongruências evidentes entre o discurso do Governo e a realidade, como a mesma já tem sido aqui
evidenciada, de norte a sul do País.
Há uma incongruência absoluta entre aquilo que o Governo afirma e a realidade das políticas, em especial
no que se refere aos recursos humanos. Sr.ª Ministra, uma das primeiras medidas adotadas por este Governo
foi a reposição das 35 horas de trabalho semanais, uma reposição que foi precipitada e que não foi
absolutamente nada preparada. Ora, esta reposição teve consequências muitíssimo nefastas para os utentes
do Serviço Nacional de Saúde e para toda a atividade assistencial, ao contrário do que a Sr.ª Ministra tem vindo
a dizer esta tarde e ao longo do tempo, e teve ainda consequências nefastas para os profissionais e para a boa
gestão do orçamento da saúde.
Uma primeira incongruência é esta: a Sr.ª Ministra tem vindo a afirmar, sempre com dados bastante variáveis,
que o número de profissionais contratados desde o início da Legislatura ronda os 9000. Mas onde é que eles
estão, Sr.ª Ministra, que ninguém os vê?! E sobretudo ninguém vê o resultado dessas contratações.
Nós temos o pior dos dois mundos. Temos mais despesas com horas extraordinárias e com trabalho
suplementar — um aumento de 300 milhões de euros em dois anos, entre 2016 e 2018. Desde julho de 2018
que os hospitais gastam todos os meses 50 milhões de euros em horas extraordinárias e trabalho suplementar.
E, apesar disto, temos os profissionais absolutamente exaustos e desmotivados, de que a avalanche de greves
é autoexplicativa.
Sr.ª Ministra, vejamos outra incongruência: os senhores sempre se manifestaram contra a contratação de
empresas de prestação de serviços para suprir a falta de profissionais e defendem, sim, a contratação de efetivos
— aliás, devemos concordar com essa posição de princípio.
Mas, mais uma vez, onde é que eles estão? Qual o seu impacto? E, mais uma vez, o gasto com a contratação
de médicos tarefeiros foi de 300 milhões de euros, entre 2016 e 2018.
A Sr.ª Isabel Galriça Neto (CDS-PP): — Muito bem!
A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Sr.ª Ministra, refiro uma última incongruência. Apregoam com tanto afinco
a afeição, a maternidade e a paternidade do SNS. Mas se «todo o Governo é Centeno», então o Ministério da
Saúde é o mais Centeno de todos. E nós assistimos, na área da saúde, a espartilhos nunca antes vistos nesta
área, de que os recursos humanos são aqui um claro exemplo.
De facto, temos o anúncio dos profissionais contratados, o recurso a horas extraordinárias, o recurso a
médicos tarefeiros, mas as listas de espera, Sr.ª Ministra, não param de aumentar para números inqualificáveis,
aqui já referidos pela bancada do PSD e que nós subscrevemos.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe, do PCP, para um pedido
de esclarecimento.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra, Sr.as e Srs. Secretários de Estado, Srs.
Deputados, não fazemos esta interpelação para arrasar o Serviço Nacional de Saúde. Não é essa a nossa
postura.
O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Pois não! Esse é o papel do Governo!
O Sr. António Filipe (PCP): — Nem vimos para esta interpelação com discursos catastrofistas do tipo «isto
nunca esteve tão mal», porque sabemos que isso não é verdade e temos até testemunhos concretos disso.