I SÉRIE — NÚMERO 61
52
Sr.as e Srs. Deputados, trago este caso pela incompreensão e justa revolta que ele está a gerar.
Incompreensão e revolta que são tanto maiores quão desigual é o tratamento dado ao cidadão comum que pede
um empréstimo para compra de casa. Também nesta matéria, em muitos bancos e não apenas o Novo Banco,
sobreavaliaram os ativos sobre os quais constituíram as hipotecas e sobreavaliaram com alguma leviandade a
capacidade de cumprimento de famílias com os baixos rendimentos médios, que são os nossos. Quando a crise
sobreveio e muitas famílias deixaram de poder pagar, grande parte da banca foi inexorável: as pessoas
perderam as casas, perderam o dinheiro e muitas vezes ainda ficaram com dívidas, porque o valor real do bem
afinal é muito inferior ao valor do empréstimo. O processo é injusto e desproporcionado, novamente, e tem
consequências sociais gravíssimas.
É por isso que estão a fazer caminho por essa Europa fora medidas como a extensão da dívida hipotecária
com entrega do bem quando está em causa a morada de família, medidas estas que o Partido Comunista
Português e o Bloco de Esquerda propõem nos seus projetos de lei de bases da habitação e que, creio, não
devem ser descartadas. É um apelo que dirijo ao Partido Socialista.
Sugiro, mesmo, que se vá mais longe. A impenhorabilidade da casa de morada de família, que já está
reconhecida hoje em Portugal legalmente, em caso de dívida fiscal ou contributiva, deve ser alargada a dívida
hipotecária contraída para a aquisição de habitação própria se houver carência económica superveniente e
justificada. E deve haver formas, sem novas alcavalas, de reestruturar a dívida hipotecária à luz das condições
reais da família ou, pelo menos, a possibilidade de trocar a casa por outra mais barata. É que é o direito à
habitação que está em causa.
Defendo, igualmente, maior prudência no crédito à habitação. Têm sido vários os apelos, e eu também os
faço. Os juros poderão subir de um momento para o outro. Tanto as famílias como a banca, devem ter a noção
exata dos riscos que isso comporta.
A crise habitacional está a agravar-se no nosso País. São precisas medidas preventivas, uma maior
proatividade das políticas públicas, mas é, sobretudo, preciso, Srs. Deputados, que os cidadãos sintam que o
sistema financeiro tem de deixar de ser uma espécie de rede de pescadores ao contrário, que prende o pequeno
e deixa passar o grande. O tratamento dado à pequena dívida familiar não pode ser tão violento face à
complacência a que assistimos perante sucessivos buracos financeiros que não podem ser indefinidamente
escondidos ou adiados. Não haverá maior confiança no sistema bancário sem este reequilíbrio entre pequenos
e grandes.
Mas, Srs. Deputados, é também a confiança na democracia que está em causa. Precisamos todos de ser
mais exigentes com a seriedade e com a decência de quem toma decisões sobre as nossas vidas.
Aplausos do PS e de Deputados do BE.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, dois Srs.
Deputados.
Pergunto à Sr.ª Deputada Helena Roseta como deseja responder.
A Sr.ª Helena Roseta (PS): — Respondo em conjunto, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Com certeza, Sr.ª Deputada.
Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Maria Manuel Rola, do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Maria Manuel Rola (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Helena Roseta, só posso começar por
agradecer o facto de ter trazido o tema da habitação, principalmente a financiarização da habitação, um tema
que tem estado debaixo do tapete e que, de facto, tem de passar a estar em cima da mesa.
Existe uma urgência que não tem encontrado no Partido Socialista o albergue das medidas decididas para
fazer face à falta de habitação acessível a uma grande parte da população, em Portugal. Ainda anteontem, a
SIC fez uma reportagem sobre a dificuldade de encontrar casa para arrendar ou, até, para comprar na cidade
do Porto.
Conseguimos, recentemente, a algumas alterações à lei do arrendamento de Assunção Cristas, alterações
essas que trouxeram mais proteção aos inquilinos, mas, de facto, é manifestamente insuficiente. Basta falarmos