14 DE MARÇO DE 2019
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Não há «raças», mas há categorias de pessoas condenadas a serem identificadas com esse velho e
ultrapassado conceito criado na expansão e colonialismo europeus.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — É por isso que faço parte de quem goza do privilégio, por não ser
discriminada, de não ter sido e não ser racializada.
Até o branco pobre tem abaixo dele o pobre negro. No que à racialização diz respeito, o facto de a pessoa
racializada ser percecionada como tal antes de todas as outras identidades e recursos que tenha tem um peso
negativo evidente.
O mecanismo de apresentação de queixas de racismo e xenofobia, só este ano, contabilizou mais de 200
queixas.
Falar sobre racismo estrutural significa perceber que estas pessoas são discriminadas em todas as estruturas
sociais, políticas e jurídicas. Estas estruturas não nasceram em Marte, pelo que a discriminação está lá e os
relatórios, como o Relatório sobre Portugal,da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância,do
Conselho da Europa, devem levar-nos a refletir e a agir.
O poder que os grupos nacionalistas de extrema-direita e neonazis poderão estar a conquistar em Portugal
está a preocupar este órgão do Conselho da Europa, nomeadamente no que a alguns agentes que se infiltram
na polícia diz respeito.
Debruçarmo-nos sobre estes dados não é incitar ao ódio nem afirmar que toda a polícia é racista.
A Sr.ª Margarida Marques (PS): — Muito bem!
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — É, antes, não negar um problema, para bem da comunidade e da própria
instituição PSP.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — De resto, o racismo estrutural e institucional está na educação, no
acesso ao emprego, na saúde, nos serviços públicos, na habitação, na justiça. É normal que a taxa de
encarceramento da população PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) seja 15 vezes superior
à restante?! Falar disto não é diabolizar a saúde ou a justiça. Falar de racismo não é incitar ao ódio. Invisibilizar
quem tem de fazer parte de Abril e da Avenida da Liberdade é, sim, intolerável.
Temos de reconhecer que quando criamos guetos para pessoas negras e ciganas, longe da cidade e das
possibilidades da cidade, estamos a ser cúmplices do tal racismo estrutural, e os números disponíveis
demonstram a discriminação e a falta de oportunidades.
Falar de racismo contra o silenciamento, dizia. É por isso que louvo o Deputado Hélder Amaral ou a Ministra
da Justiça, por terem dado publicamente os seus testemunhos contra a invisibilidade. Isto não é incitar ao ódio,
mas à decência.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Negar o racismo deve ficar para os racistas, tão ativos nas redes sociais
nos tempos recentes. Defender a Constituição, os direitos fundamentais, as instituições livres de quem as
mancha e uma sociedade em que as pessoas negras e ciganas deixem de ser as «outras» é para democratas
e exige um programa político.
Exige, desde logo, que se leve avante a recolha de dados estatísticos étnico-raciais para os censos de 2021,
por autoidentificação, e para políticas de igualdade de oportunidades.
Olhando, em todo o caso, para os dados de que já dispomos relativamente à população PALOP, sabemos
que, por exemplo, nas remunerações médias mensais ganham 104 € menos do que a restante população; e a
discriminação continua, sendo que a percentagem desta população a ocupar os piores empregos é três vezes
superior à restante. A taxa de desemprego, por sua vez, é o dobro da relativa à população não PALOP.