I SÉRIE — NÚMERO 63
36
Na verdade, estas questões dependem mais da relação de forças política do que de outra coisa qualquer, já
que tanto pode servir para taxar o grande capital como pode servir para permitir o dumping fiscal.
E a verdade é que, com as orientações políticas que têm dirigido as instituições europeias nos últimos
tempos, e desde o seu início, a não existência da regra da unanimidade teria servido para se aprofundar um
caminho de borlas ainda maiores ao grande capital, prejudicando economias, inclusivamente a economia
portuguesa.
É certo que poderiam até ter o argumento contrário: pode permitir taxar mais adequadamente gigantes como
a Google ou o Facebook. Consideramos que esse argumento é algo ingénuo, visto que denota uma falta de
análise política da real relação de forças política na União Europeia.
Portanto, se queremos e achamos que estes gigantes económicos devem ser taxados, podemos fazê-lo,
aliás, temos uma ótima oportunidade para o fazer, que é aprovar a proposta do Bloco de Esquerda sobre essa
matéria. É que a decisão de deixar fugir os grandes capitais do nosso País deve-se também aos seus sucessivos
Governos e a uma ideia, que ainda predomina, de que, em nome da concorrência e da competitividade, vale
tudo, inclusivamente ilibar estas empresas de pagarem impostos.
O princípio da unanimidade, como já aqui dissemos na nossa intervenção, tem servido para proteger o nosso
País em muitas matérias e não concordamos com a decisão que foi tomada pelo Governo e o sinal que foi dado
pelo Governo nesta matéria, sem consultar, já agora, a Assembleia da República, que não foi ouvida nem achada
sobre esta questão, como, aliás, sobre outras.
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Duarte Marques (PSD): — Bem lembrado!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Portanto, achamos que esta não é a forma correta de debater este tipo de
questões.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo
Trigo Pereira.
O Sr. Paulo Trigo Pereira (N insc.): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Começo por saudar os
milhares de estudantes que estão lá fora a manifestar-se pelo combate às alterações climáticas.
Sobre esta matéria, devo dizer o seguinte: queria saudar estas iniciativas, embora discorde delas, porque
este é um debate que devia ser tido com tempo nesta Assembleia.
Como sabem, quando a Comunidade Económica Europeia foi criada, eram seis os países que dela faziam
parte e a regra era a da unanimidade sobre todas as matérias. Ora, isso dava um poder de veto a qualquer país
sobre qualquer matéria.
Nestes 30 e tal anos, nós movemo-nos, em termos de União Europeia, para a tomada de decisão por maioria
qualificada, o que significa, obviamente, que não se dá poder de veto a nenhum país.
A tributação é — e ainda bem que é! — a questão central nas democracias parlamentares. Os ingleses dizem
«no taxation without representation», e com toda a razão!
A minha posição não é a posição do CDS e do PSD, porque manter o direito de veto sobre todas as matérias
de fiscalidade significa um obstáculo ao progresso da União Europeia em matérias tão importantes como um
imposto sobre transações financeiras ou a harmonização da base tributária do IRC, nem é o seu oposto, o que
seria abrir uma «caixa de Pandora» para todas as questões.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sr. Deputado, tem de terminar.
O Sr. Paulo Trigo Pereira (N insc.): — Para certas matérias da fiscalidade, e com isto, termino, Sr.
Presidente, temos de manter a unanimidade, para outras matérias, temos de ter a maioria qualificada, para
podermos progredir.