I SÉRIE — NÚMERO 91
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Sr. Ministro, virámos a página, é certo, mas há novas páginas para serem escritas, novas problemáticas que
exigem respostas, e é sobre estas que o Partido Socialista continuará a trabalhar e sobre as quais também
gostaríamos de ouvir a sua opinião.
Nos últimos quatro anos, o Governo e o Partido Socialista salvaram verdadeiramente Portugal do estado de
emergência em que a família política europeia do PSD e do CDS nos colocou de um país sem futuro, sem
esperança para os jovens e para as famílias que investiram na formação dos seus filhos e que, posteriormente,
foram convidados a emigrar, um país sem futuro, um país sem respostas para uma geração a quem foi dito que
eram novos demais para se reformarem, mas velhos demais para trabalharem.
Nas políticas ativas de emprego, na rede Qualifica, no estímulo da procura interna pela devolução de
rendimentos, no aumento dos salários mínimos, do salário médio, o Partido Socialista transformou a economia
portuguesa e o mercado de trabalho. Diminuímos o desemprego, particularmente o dos jovens e o de longa
duração.
Portugal, em quatro anos, tornou-se um país diferente, um país melhor, e os portugueses sabem bem disso.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Pires, do
Bloco de Esquerda.
Faça favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Ministro do Trabalho: Estamos a
debater, em Plenário, mais uma vez, temas relacionados com o emprego e o trabalho, e isso é, obviamente,
importante. E é importante, acima de tudo, porque permite, num momento tão importante, clarificar posições
sobre a análise ao mundo do trabalho e sobre que futuro se projeta para o mesmo.
Desse ponto de vista, uma análise puramente estatística, que é a única razão para se falar em valores
históricos, por exemplo, dos dados do emprego, do nosso ponto de vista não é suficiente. Eles podem dizer-nos
muito e, desde logo, dizem-nos que houve, objetivamente, um aumento do número de pessoas empregadas no
nosso País, pelo que se olharmos apenas para este facto estatístico eles são, obviamente, positivos. Mas não
é alheio a este facto que se tenha mudado drasticamente o tipo de política prosseguida. A economia e o emprego
ganharam quando todos também ganharam melhores salários e viram os seus rendimentos devolvidos. Essa
foi também uma das grandes razões para que existam, neste momento, dados mais positivos do que existiam
anteriormente.
No entanto, quando olhamos mais profundamente para os dados e as suas diversas vertentes, eles também
nos dizem outras coisas, sendo também importante olharmos para essas outras coisas.
Eles dizem-nos, por exemplo, que quase metade do trabalho extraordinário no ano de 2018 não foi pago aos
trabalhadores. Eles dizem-nos, por exemplo, que o recurso a empresas de trabalho temporário e prestação de
serviço ou outsourcing ainda é demasiado alto e representa precariedade e roubo de salário efetivo aos
trabalhadores. Eles dizem-nos, por exemplo, que os salários mínimo e médio ainda são muito baixos no nosso
País, quando comparado com outros. Dizem-nos, por exemplo, que o número de setores e de trabalhadores
abrangidos por contratação coletiva é ainda muito baixo para o que se deseja e que a legislação que garanta
uma contratação coletiva efetiva e digna não foi ainda aprovada. Dizem-nos, ainda, que as formas de
precariedade se têm transformado e travestido de tantas maneiras que, por vezes, se torna difícil combatê-la,
mas não é impossível.
Quando se olha para tudo isto e para aquilo a que o PS chamou, numa expressão infeliz, «mercado de
trabalho» e para os dados do emprego, devemos olhar, então, para a sua qualidade e para o que é mantido
para o futuro.
Portanto, a questão que gostaríamos de deixar ao Sr. Ministro nesta primeira ronda tem que ver com a visão
que o Governo tem para a organização do trabalho no País, e isto significa organização da sociedade também
enquanto tal. Uma vez que, cada vez mais, nos livros de Bruxelas existe um modelo de flexibilização que ficou
muito claramente visto que é um modelo defendido pelo PSD, mas que apenas significa mais precarização,
pergunto se o Governo admite ou não avançar na flexibilização ou se, pelo contrário, vai combatê-la. Vai ou não
o Governo avançar na retirada das normas gravosas no Código do Trabalho?