8 DE JUNHO DE 2019
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Com estes mecanismos, pretende-se eficiência na supervisão e diligência devida no modo de garantir a
qualidade dos créditos. Pretende-se, também, com esta medida, salvaguardar os investidores, de modo a
poderem fundamentar a sua opção de investimento na avaliação de riscos inerentes a cada um dos produtos
em que investem.
Tal como já referido pelo Sr. Secretário de Estado, com este mecanismo do regime geral para a titularização
e do regime específico, pretende-se maior eficácia da supervisão. Pretendemos, também, que o Estado, como
até hoje, e a Segurança Social possam continuar a ceder os seus créditos, quer estejam vencidos ou não,
conforme está previsto na lei, relativamente à Segurança Social e relativamente às contribuições e, por fim, o
regulamento europeu e o mecanismo de procedimentos comuns de avaliação.
Isto é importante, dá certeza e por este facto não mereceu grande oposição dos diferentes representantes
das associações no mercado.
Sr. Secretário de Estado, queria apenas deixar-lhe duas perguntas, que são as seguintes: qual é o real
acréscimo de garantia aos investidores face à legislação que já existe hoje? A simplificação do procedimento de
titularização de dívidas não levará, por vezes, o Estado, a Segurança Social e os agentes financeiros, abdicando
da cobrança, a perder, muitas vezes, parte dos créditos que têm subjacentes nos seus balanços?
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para uma intervenção em nome do Grupo
Parlamentar do PCP, o Sr. Deputado Duarte Alves.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: A proposta de lei
que hoje discutimos visa permitir a execução do Regulamento (UE) 2017/2402. Este regulamento é mais um
exemplo de como a União Europeia e o seu diretório continuam a reagir de forma errática às causas da crise de
2008. É a habitual fuga para a frente, ignorando as causas profundas da crise e insistindo nas mesmas receitas.
A titularização, ou seja, um instrumento criado pelos banqueiros para limpar os seus balanços, reunindo
créditos mais ou menos duvidosos, transformados em produtos financeiros, está na raiz do processo de
financeirização da economia e da bolha especulativa que rebentou em 2008. Foi esse rumo neoliberal que
mergulhou a Europa e o mundo numa crise social e económica, cujo impacto ainda se sente na economia e na
vida das pessoas. Não é demais dizer que as possibilidades de uma nova crise do capitalismo não estão
afastadas. Aí está a inversão da curva dos juros nos Estados Unidos a demonstrar os perigos de novos episódios
dessa crise estrutural.
Perante isto, o que é que faz a União Europeia dez anos depois? Vem relançar o mercado da titularização,
o tal que esteve na origem da crise de 2008. Por muito que os dirigentes da União Europeia, do grande capital,
continuem a enterrar a cabeça na areia, os produtos financeiros que se pretendem agora relançar nunca foram
nem serão simples e muito menos transparentes, como sugere o regulamento e a proposta de lei do Governo.
São, como sempre foram, artimanhas da alta finança que depois estoiram em crises que são suportadas pelos
mesmos de sempre.
O relançamento do mercado de titularização representa mais um passo na direção errada. Nem a Europa
nem Portugal precisam de mais financeirização. Portugal precisa é de mais economia real, mais emprego e mais
desenvolvimento.
Tal como votámos contra este regulamento no Parlamento Europeu, votaremos agora contra esta proposta
de lei. O caminho que defendemos é o do controlo público sobre o sistema financeiro, para o colocar ao serviço
da economia, do desenvolvimento do aparelho produtivo, objetivo esse que não cabe na submissão às
imposições da União Europeia e à sua agenda neoliberal, a que se submetem tanto o PS, como o PSD e o CDS.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra o Sr. Deputado Fernando Anastácio, do Partido
Socialista, para uma intervenção.