8 DE JUNHO DE 2019
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Termino, pois, Sr. Presidente, dizendo que estamos disponíveis para melhorar a lei e esperamos que várias
propostas sejam apresentadas e aceites pelo Governo. Assim, sim, poderá haver o tal consenso merecido; se
não, tenho receio de que esta lei não passe em votação final global.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra, para uma intervenção em nome do Grupo Parlamentar do Bloco
de Esquerda, o Sr. Deputado João Vasconcelos.
O Sr. João Vasconcelos (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Ministro, Srs. Secretários de
Estado: Pretende o Governo, com esta proposta de lei, conferir o reconhecimento e a solidariedade a todos
aqueles que combateram por Portugal nas guerras coloniais e noutras missões externas. É sabido que a
esmagadora maioria desses ex-militares, hoje já com mais de 60/70 anos, foram arrancados brutalmente às
suas famílias pelo regime salazarista e atirados à força para uma guerra colonial injusta e criminosa que, durante
mais de uma década, teve lugar em terras de África, provocando um sofrimento inaudito e milhares de mortos e
de mutilados de ambos os lados.
Grande parte desses ex-combatentes vivem hoje com reformas miseráveis, que em nada dignificam as suas
parcas existências, agravadas, em muitas situações, pelas doenças e deficiências contraídas na guerra. Daí ser
legítimo esse reconhecimento e essa solidariedade. Só não se percebe que o Governo queira colocar no mesmo
estatuto de antigo combatente os participantes em missões de voluntariado, ao serviço e em manobras da NATO
(North Atlantic Treaty Organization) e da União Europeia, e algumas associações também não concordam com
esta formulação.
Algumas propostas apresentadas para a implementação desse estatuto afiguram-se positivas, mas o
Governo perde hoje uma oportunidade ao não ir mais longe. Efetivamente, são medidas muito limitadas e que
acabam, até, por merecer a reprovação de diversas associações de ex-militares. Quando, à partida, havia
condições para construir uma proposta mais ou menos consensual, a mesma acaba por não agradar a gregos
nem a troianos.
Algumas medidas positivas parecem ser a criação do Balcão Único da Defesa, a rede nacional de apoio, o
centro de recursos de stress em contexto militar e o plano de ação para apoio aos deficientes militares.
Particularmente importante afigura-se a rede nacional de apoio, facultando informação e encaminhamento dos
casos de patologias decorrentes do stress pós-traumático de guerra que afetam os ex-militares, envolvendo até
as suas famílias. O plano para apoiar os deficientes militares com vista a melhorar a sua qualidade de vida
também merece nota positiva.
Já o centro de recursos de stress em contexto familiar é pouco ambicioso, não devendo limitar-se apenas a
recolher e analisar informação e desenvolvimento de estudos sobre o stress militar. Por outro lado, na opinião
do Bloco de Esquerda, não será boa ideia esta proposta de estatuto integrar os deficientes das Forças Armadas.
Pelos vistos, o Governo não teve em conta as reivindicações da Associação dos Deficientes das Forças
Armadas, que pugna por um estatuto próprio, o estatuto do deficiente militar, que salvaguarde os regimes
jurídicos dos deficientes das Forças Armadas, um claro objetivo subjacente a uma outra proposta desta
associação de criação de uma magna carta dos deficientes militares.
Em suma, esta proposta de lei não consagra novos direitos e diversas das medidas previstas, embora
positivas, têm pouco alcance e correm o risco de levar a mais burocracias.
O Bloco de Esquerda estará disposto, em sede de especialidade, a contribuir com propostas para melhorar
esta iniciativa do Governo.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra, para uma intervenção em nome do Grupo
Parlamentar do PCP, o Sr. Deputado Jorge Machado.