8 DE JUNHO DE 2019
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Porém, este é o momento de afirmar com clareza que a ação do Parlamento em relação aos incêndios letais
que o País sofreu, desde logo com a tragédia de Pedrogão, foi, a meu ver, manifestamente insuficiente.
Os debates realizados, a aprovação da Comissão Técnica Independente, a discussão dos relatórios
produzidos e agora a aprovação deste Dia Nacional em Memória das Vítimas, são iniciativas que ficam longe,
muito longe, do que deveria ter sido a intervenção da Assembleia da República nesta matéria.
Se houve, nesta Legislatura, factos que teriam merecido do Parlamento a utilização e o esgotamento de
todos os seus meios para o apuramento da verdade foram os incêndios fatais, que cortaram vidas, destruíram
famílias e puseram em causa a confiança no Estado.
A tragédia de Pedrogão e todas as que se seguiram, revelando a incapacidade dos poderes públicos de
aprenderem com os seus próprios erros, não pode valer menos do que a situação financeira de um banco ou as
rendas excessivas no setor energético.
O Estado falhou, em Pedrogão e pelo País fora, repetidamente. O Governo revelou a sua total incapacidade
para prever e combater os incêndios e para cuidar das suas vítimas. O Parlamento errou quando prescindiu de
constituir uma comissão de inquérito que apurasse todas as responsabilidades políticas e todas as falhas das
entidades públicas envolvidas.
Instituir o Dia Nacional das Vítimas é um ato meramente simbólico. Nada adianta e nada resolve na vida de
quem sofreu, e continua a sofrer, com tamanha tragédia.
A Deputada do PSD, Teresa Morais.
——
O Ex.mo Sr. Presidente da Assembleia da República foi o promotor de um projeto de resolução, para posterior
proposta a S. Ex.ª o Presidente da República Portuguesa, com vista a que o dia 17 de junho seja consagrado
como Dia Nacional em Memória das Vítimas dos Incêndios Florestais.
As subscritoras reconhecem que, infeliz e lamentavelmente, há incêndios, que em todos há potencial de
existirem vítimas mortais e que entre os dias 17 e 24 de junho de 2017 ocorreu o maior incêndio florestal de
sempre em Portugal, onde, clamorosamente, o Estado falhou perante tantas famílias. Numa região onde, em
vários concelhos, já nascem menos de 10 crianças por ano, concelhos que se nada for feito no combate à
desertificação estarão condenados a desaparecer, a resposta a estas questões, que o Estado falha em
implementar, não é compatível com ideias vagas e medidas paliativas, consagração de dias de evocação. A
resposta tem de ser efetiva e tem de ser um desígnio nacional. O abandono das aldeias e vilas do interior, para
além de ser um desastre económico e demográfico, é um desastre ambiental. O agravamento das condições
climáticas, associado à falta de pessoas e meios, estará na base dos incêndios que têm atingido estas zonas
do País. Um território sem pessoas é um território sem guardiões.
A Assembleia da República e o Governo não podem, no caso em concreto, responder apenas
simbolicamente, apenas com gestão de simpatias, como seja criar um dia de evocação da memória das vítimas
de incêndios florestais. Acresce, no caso em concreto que sustenta esta proposta, que as notícias vindas a
público dão nota de que a ajuda prometida de apoios e restabelecimento dos meios necessários para que as
populações consigam ter a sua vida minimamente normalizada ainda não chegaram ao terreno e a quem dela
efetivamente necessita. Toda a prática governativa, apesar do grito de dor que chegou a todos os portugueses
no fatídico verão de 2017, não foi suficiente para que o combate à desertificação do interior fosse assumido com
maior prioridade pelo atual Governo.
Apesar de apresentarmos esta declaração de voto, assumimos que não somos contra a criação de um dia
de evocação das vítimas de fogos florestais, mas parece-nos pouco quando tudo o mais falha. Talvez não fosse
esta a mais adequada data para tal evocação, pois nela se celebra um feito histórico nacional, não por falha do
Estado mas pelo Estado Nação que somos, a batalha de Montes Claros, realizada em 1665, nas planuras
alentejanas, entre a serra da Ossa e os montes da Vigaria e do Mouro. A maior batalha travada por nacionais
em solo português, a batalha com maior número de portugueses mortos e feridos no mesmo dia, a batalha
decisiva e o último confronto bélico da Guerra da Restauração, que durou 28 anos, e, por certo, muito penalizou
os nossos antepassados, mas que permitiu que hoje tenhamos uma voz autónoma também na Europa.