17 DE SETEMBRO DE 2020
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Estados da União Europeia e também das organizações internacionais de que faz parte, no sentido de procurar
medidas e encontrar soluções para acabar com os paraísos fiscais.
Por isso, a nosso ver, qualquer estratégia de combate à corrupção não pode deixar de fora o esforço para
acabar com estas manobras, que apenas servem para alguns continuarem sem pagar impostos e para dificultar
ou até impedir a investigação de crimes associados à corrupção.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Dou agora a palavra ao Sr. Deputado Telmo Correia, do CDS-PP, para uma intervenção.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Quero registar, em primeiro lugar, que, do nosso ponto de vista, o objeto desta petição faz todo o sentido. Ou seja, precisa ou não o País de uma
estratégia séria, forte e eficaz de combate à corrupção? Do nosso ponto de vista, a resposta é «sim, o País
carece dessa estratégia».
Não o pensamos agora e registo, até, com curiosidade que, precisamente no Programa Eleitoral com que o
CDS se apresentou nas últimas eleições, havia um capítulo que tinha, precisamente e coincidentemente, o
mesmo título desta petição: «Por uma estratégia nacional de combate à corrupção».
Em relação a essa mesma estratégia e, obviamente, ao seu conteúdo, não teremos todos a mesma opinião.
Desde logo, há uma tendência que, seja no exercício dos cargos, seja nos próprios registos de interesses, segue
uma lógica mais proibicionista e de uma certa funcionalização, por assim dizer, e há uma lógica, a que o CDS
adere mais, de absoluta transparência, desse ponto de vista, e de rigor nesses mesmos registos.
Foi nessa perspetiva, de resto, que apresentámos propostas que brevemente serão discutidas. O Governo
tem, como foi dito pela Sr.ª Deputada do Partido Socialista, a sua estratégia em discussão pública, vamos
aguardar que essa estratégia venha e não temos qualquer problema em que as propostas que queremos ver
agendadas — designadamente em relação ao lobbying, matéria sobre a qual vários partidos têm propostas —
se possam conjugar, procurando consensos, desse ponto de vista, em matéria de registo de interesses, de
registo de atividade e de maior transparência.
Por outro lado, não deixo de registar que, de alguma forma, esta petição e um dos projetos de resolução que
estão aqui em discussão hoje não deixam também de solicitar ao Governo que faça aquilo que é a sua obrigação.
Quer dizer, obviamente, é obrigação do Governo ter uma estratégia nacional de combate à corrupção. Agora,
se queremos discutir esta matéria de uma forma séria, de uma forma rigorosa, sem ceder a populismos, é
evidente que aqueles diplomas terão de ser discutidos e agendados brevemente.
Há uma questão que foi aqui aflorada ainda agora, mas não suficientemente discutida, que é a seguinte:
podemos ter uma legislação perfeita — legislação perfeita não existe, mas podemos ter uma legislação muito
boa de combate à corrupção —, podemos criar mais não sei quantos instrumentos legislativos, mas, a seguir,
como foi denunciado por alguns dos principais responsáveis do combate à corrupção, seja nas magistraturas,
seja na Polícia Judiciária, temos aquilo a que alguns chamaram «uma asfixia da investigação criminal», uma
asfixia por falta de meios, por falta de meios humanos, por falta de meios efetivos, por falta de assessores
especializados, que são essenciais, porque, às vezes, enquanto o combate à corrupção avança no tempo do
gasóleo, a corrupção avança à velocidade da luz. Portanto, é necessário ter assessores, assessorias,
capacidade especializada para combater essa mesma corrupção.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr. Deputado, chamo a sua atenção para o tempo.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Termino mesmo, Sr. Presidente, dizendo que algumas das matérias aqui afloradas merecem a nossa concordância: o estatuto de proteção de denunciantes, que não são, obviamente,
forma de obtenção de prova ilegal, são outra coisa, e o melhor estatuto do arrependido merecem a nossa
discussão, mas é importante que essa discussão seja feita e consensualizada para combater este cancro, que
mina, ainda, e muito, a sociedade portuguesa.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Pureza, do Bloco de Esquerda, para uma intervenção.