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I SÉRIE — NÚMERO 1

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A Sr.ª Mónica Quintela (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Saudamos a pertinente iniciativa dos 8502 subscritores da petição que solicita à Assembleia da República que aprove uma resolução com vista

à adoção de uma estratégia nacional contra a corrupção.

E o Governo até parece ⎯ parece! ⎯ sintonizado com este propósito, porque aprovou recentemente a

Estratégia Nacional de Combate à Corrupção para o período de 2020 a 2024, encontrando-se em curso a

consulta pública daquele diploma legal.

Parece, dizia eu, pois, como sabem, foi criada a procuradoria-geral europeia, que é um órgão independente,

com tudo o que isso implica, e a quem compete investigar e exercer a ação penal nos crimes económico-

financeiros lesivos da União Europeia.

A procuradoria europeia pretende ser uma resposta eficaz à atonia dos Estados-Membros no combate à

fraude e aos comportamentos corruptivos que afetam os interesses financeiros da União Europeia, ou seja, de

todos nós, Srs. Deputados.

É fundamental a independência e a experiência profissional dos magistrados que a integram. Por isso, os

magistrados candidatos foram avaliados por um comité composto por 12 personalidades de inquestionável

independência e competência internacional.

A esmagadora maioria dos países respeitou essa seleção e indicou ao Conselho o candidato avaliado em

primeiro lugar por aquele comité europeu. Todavia, e lamentavelmente, a Sr.ª Ministra da Justiça portuguesa

não indicou a candidata vencedora dos critérios de qualidade e aptidão para o exercício do cargo, Sr.as e Srs.

Deputados, e indicou, ao invés, um procurador que lhe é próximo e que terá a sua confiança política.

A Sr.ª Hortense Martins (PS): — E muito bem!

O Sr. Carlos Peixoto (PSD): ⎯ Belo exemplo!

A Sr.ª Mónica Quintela (PSD): — E isto é absolutamente reprovável porque o Governo permitiu-se preterir, ostensivamente, a meritocracia e indicar alguém da sua confiança para o exercício de um cargo que não é de

confiança política ⎯ o que é gravíssimo, porque o que está em causa é a investigação de crimes de corrupção

e fraude que podem envolver, inclusivamente, membros do próprio Governo.

À Sr.ª Ministra da Justiça, mais do que à mulher de César, cabia respeitar os critérios de seleção definidos

pela União Europeia e que não se compadecem com estas conveniências de bastidores. Repare-se que vários

países lavraram uma declaração de voto a censurar a postura de Portugal, o que diz tudo sobre a indicação da

Sr.ª Ministra da Justiça, Sr.as e Srs. Deputados.

Não será também, e mais uma vez grave, de somenos importância o facto de a Sr.ª Procuradora preterida

ser a magistrada que tem estado à frente de investigações ao Governo, como é o caso das tristemente célebres

golas de fumo?! Isto é muito preocupante, Sr.as e Srs. Deputados!

O que o Governo está a dizer aos magistrados, o sinal que está a dar é o de que, se eles cumprirem as suas

funções, em obediência aos princípios da legalidade e independência perante o Governo, não poderão almejar

alcançar os cargos a que, por exclusivo mérito, tenham direito. São prejudicados! Srs. Magistrados, a partir de

agora, ficam a saber que, se cumprirem o cargo para o qual estão investidos, serão prejudicados no acesso a

outros cargos a que possam vir a ter direito.

Isto, Sr.as e Srs. Deputados, é a derrocada da confiança na justiça e no Estado de direito democrático. O

Governo bem pode propalar alegadas estratégias de combate à corrupção, que «bem prega Frei Tomás…»!

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Cláudia Santos, do PS.

A Sr.ª Cláudia Santos (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Debatemos agora três iniciativas que têm no horizonte a prevenção e a repressão da corrupção e o Grupo Parlamentar do Partido Socialista associa-

se a esse desígnio, saudando os peticionários e os proponentes pela bondade de tal propósito.