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I SÉRIE — NÚMERO 7

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os autarcas das comissões de coordenação e desenvolvimento regional, mas isso é uma coisa, regionalizar é

outra coisa.»

É exatamente porque consideramos que este enlevo PS/PSD tem por intenção encapotar a regionalização

que requeremos a cessação de vigência aquando do debate da apreciação parlamentar.

Em terceiro lugar, outro aspeto que nos é apresentado como uma espécie de grande avanço civilizacional é

o da democracia. É um trunfo de convencimento: democratizar as CCDR através do ato eleitoral. Este

argumento ainda colheu adeptos — o colégio eleitoral de autarcas a votar para a eleição dos seus

representantes regionais. Votar tem sempre uma conotação democrática. Mas votar em quem? Agora se

percebe que a democracia também «caiu por terra»: votar em candidatos «cozinhados» pelas cúpulas dos

aparelhos partidários do PS e do PSD, sem qualquer auscultação aos autarcas dos seus próprios partidos —

«o presidente é nosso e o vice-presidente é vosso», feitas as contas dos votos, em conformidade com o

número de eleitos, numa espécie de Tratado de Tordesilhas regionalista.

Este convénio partidário do Bloco Central, com quezílias pessoais entre pretendentes, e que até apressou

a remodelação de secretarias de Estado, limita-se a anunciar candidatos, sem qualquer prenúncio de critérios,

nem a exposição de um programa de ação.

Esta é uma visão centralizadora do exercício do poder, que, em nome da hipotética descentralização,

amarra os autarcas eleitores ao espírito dessa visão. Muitos autarcas assim se têm pronunciado — até através

de um requerimento que enviámos a todos os presidentes de câmara do País temos obtido essas respostas. O

Presidente da Câmara Municipal do Porto diz que não vai votar porque se trata de uma nomeação e não de

uma eleição.

Na realidade, o reacender do Bloco Central escolheu os/as candidatos/candidatas a presidente e a vice-

presidente, em conformidade com o equilíbrio de forças do poder local, em cada região e no todo nacional, de

acordo com a implantação maioritária. Assim, temos o Norte e o Centro mais próximos do PSD, Lisboa e Vale

do Tejo e Algarve mais próximos do PS. A exceção é o Alentejo, onde temos dois candidatos por

desentendimento partidário.

No meio de tudo isto, é a própria legislação que retira a possibilidade da pluralidade, porque quem não for

proposto pelos partidos — veja-se quantos movimentos locais apartidários de cidadãos existem pelo País com

vereadores, assembleias municipais e presidentes de câmara eleitos, nomeadamente — só pode ser

apresentado como candidato com 15% de proponentes. Tomando como exemplo a CCDR-Norte, um

candidato teria de ter 657 subscritores, o que inviabiliza este legítimo direito.

Esta entorse à democracia, que efetivamente retira a capacidade eletiva a quem não estiver a coberto dos

partidos, é um ataque aos movimentos de cidadãos que têm proliferado pelo País, nomeadamente aquando

das eleições autárquicas.

Para completar a «equipa de sonho» lá temos o vice-presidente emanado do Governo, que, ironicamente,

é dito que resulta de uma eleição interministerial.

Não está em causa a confiança pessoal de quem quer que seja, mas sim a transparência do processo.

Convenhamos que é gente que vai gerir largos milhões de euros. Tal como está montado o cenário eleitoral,

estamos perante uma apelidada nova intenção com velhos e viciados métodos de afunilamento democrático.

O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.

O Sr. José Maria Cardoso (BE): — Vou concluir, Sr. Presidente. Agarram-se os eleitores aos ditames dos selecionados para eleitos, perante uma efetiva nomeação que

passa de administrativa para partidária. Escolhidos os que são do agrado dos chefes, ordena-se aos

subordinados municipais para votar.

Este voto em urna acaba por ser um referendo para ratificação das escolhas pessoais dos «donos» do

poder autárquico. Se é esta a democracia invocada como grande marca da singularidade do processo,

estamos conversados.

Aplausos do BE.