1 DE OUTUBRO DE 2020
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resultados e poderiam dar mais, o problema agora é de investimento, é de cumprimento dos objetivos dessa
resolução.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Segue-se a declaração política do Grupo Parlamentar do CDS-PP, para o que tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Meireles.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Estamos a 12 dias de começar a discussão do Orçamento do Estado. Vai ser, ou pelo menos devia ser, o Orçamento mais decisivo
dos próximos anos.
Primeiro, porque o próximo ano vai ser completamente atípico e uma parte substancial da economia vai
continuar encerrada ou, pelo menos, a meio gás por força ou receio das medidas tomadas para conter a
pandemia.
Segundo, porque este é também o Orçamento que vai marcar o caminho que queremos seguir nas
próximas décadas e o que queremos fazer com o tão famoso e apregoado dinheiro da Europa, a tal «bazuca»
de que fala o Sr. Primeiro-Ministro.
O Orçamento certo para Portugal é, ou devia ser, um Orçamento que confia na iniciativa privada e que lhe
dá as condições necessárias para aguentar as dificuldades da pandemia e a liberdade para conseguir que
Portugal não passe os próximos 20 anos a disputar os últimos lugares do ranking europeu, ao contrário do que
aconteceu, aliás, nas duas últimas décadas.
Mas o Orçamento de que o PS precisa e que tenta desenhar com os seus parceiros mais à esquerda é
outro, bem diferente. Já se percebeu que, como modelo de crescimento, apresenta uma lista de obras, e de
obras públicas. Em relação à iniciativa privada, sobretudo a que não depende do Estado, olha-a com
desconfiança e prefere apostar num país clientelar, em vez de deixar florescer profissionais e empresas
dinâmicas, pouco dependentes do Estado, das suas autorizações e dos seus apoios.
Vamos ver alguns exemplos práticos das últimas semanas ou dos últimos meses.
Gostava de começar pelo tão publicitado Plano de Recuperação. E não vou sequer falar do facto, tão
óbvio, de apenas um quarto deste plano e do envelope financeiro nele previsto estar destinado ao potencial
produtivo e às empresas. Mas salta aos olhos que a esmagadora maioria das medidas concretas não são
propriamente medidas, são obras, e são obras públicas — do ponto de vista do Governo, é esse o motor da
economia —, e não há uma única medida, dos 3000 milhões de euros, para as empresas que seja de
aplicação fácil, rápida e transversal a todas, sem necessidade de criação de uma verdadeira indústria de
projetos e organismos públicos de aprovação, rejeição e negociação com empresas.
Uma medida tão simples como poderia ser a da eliminação de uma parte dos impostos ou contributos que
foram prorrogados durante este ano e que as empresas não têm dinheiro para pagar, aparentemente, não
estará prevista no Orçamento nem em cima da mesa. É a isto que se chama a criação de um país clientelar:
não há apoios a empresas sem carimbos dos serviços.
A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Muito bem!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Vale a pena lembrar, por acaso, algo que já foi referido esta tarde, a questão das CCDR, de que o PS em má hora se veio lembrar, com aquilo a que chamou «eleição indireta».
Na prática, aquilo a que estamos a assistir é à colocação nas CCDR de comissários políticos repartidos pelo
bloco central, em que o PS leva a fatia de leão, como é, aliás, assumido de forma completamente aberta e
frontal, sem nenhum pudor, perante a indiferença da opinião pública, ou melhor, perante a indiferença da
opinião publicada. Ou seja, aquilo que está a acontecer, neste momento, em Portugal é grave: para executar
políticas públicas — não é desenhar, é executar —, analisar projetos, tratar de licenças, para isso, conta a
confiança política e não conta nada a competência técnica.
Num país como o nosso, em que, em muitos concelhos, o principal empregador é já a câmara municipal e
que precisava de criar mais oportunidades no setor privado, o que está a ser feito é a entrega das CCDR às
máquinas partidárias autárquicas. Com as suas competências na execução de políticas públicas e também no