I SÉRIE — NÚMERO 7
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que toca à execução dos tais fundos comunitários e dos grandes envelopes financeiros, é bom de ver que
aquilo que está a ser criado é, sim, um país clientelar, em que conta mais a empresa que conhece quem do
que a empresa que se sai bem, que trata bem os seus trabalhadores, que paga salários justos. Estas eram as
empresas em que era importante não que o Governo ajudasse, mas, sobretudo, que não atrapalhasse, e,
infelizmente, o que acontece é o contrário.
Por último, este Orçamento podia e devia ser uma excelente oportunidade para o Governo salvar e manter
postos de trabalho, que se vão perder se alguma coisa não for feita muito rapidamente. Infelizmente, há muitas
empresas que estiveram fechadas durante o período de confinamento, que reabriram nos últimos meses, que
querem sobreviver e salvar empregos, mas que têm, de facto, menos clientes e menos encomendas — e,
provavelmente, continuarão a ter menos clientes e menos encomendas enquanto vivermos nesta incerteza,
basta pensar num pequeno hotel ou numa loja do comércio local.
A medida do layoff simplificado, ou melhor, medianamente simples, apesar das demoras e dos solavancos
iniciais, permitiu manter emprego, com sacrifícios substanciais — é verdade! — para quase 900 000
trabalhadores, que viram diminuído o seu rendimento, e também, é justo lembrá-lo, com o esforço de muitos
empresários, que utilizaram as suas poupanças pessoais para este fim.
O Governo decidiu eliminá-lo e substituí-lo por um layoff complicado, a que chamou «apoio extraordinário à
retoma progressiva». Mudou o nome e complicou o regime. Resultado: ontem, já estava a anunciar a revisão
do regime do layoff complicado, vulgo, apoio extraordinário à retoma.
Estamos a perder tempo precioso, tempo que muitas empresas não têm, é preciso rapidez e simplicidade.
Neste momento, há duas urgências.
Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente Fernando Negrão.
O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, chamo a sua atenção para o tempo utilizado.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Com certeza, Sr. Presidente. A primeira urgência é proteger os mais vulneráveis, a segunda e última é proteger o emprego e o trabalho.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para já, a Mesa regista a inscrição de três Srs. Deputados, do PSD, do Iniciativa Liberal e do PCP, para formularem pedidos de esclarecimento à Sr.ª Deputada Cecília
Meireles, que responderá conjuntamente.
Tem a palavra, em primeiro lugar, o Sr. Deputado Jorge Paulo Oliveira, do PSD.
O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Cecília Meireles, cumprimento e saúdo o Grupo Parlamentar do CDS-PP pelo tema escolhido para a sua declaração
política e pela relevância do mesmo.
Numa análise serena, mas objetiva, àquilo que é a situação económica e financeira do País, somos
obrigados a concluir, em primeiro lugar, que a situação económica do País é pior do que aquela que o
Governo antecipou.
Em segundo lugar, somos obrigados a concluir que a generalidade das empresas continua muito longe da
retoma da atividade, e esta circunstância não é exclusiva do setor da restauração ou do turismo.
Em terceiro lugar, as empresas sentem-se desapoiadas. Basta ouvir o que dizem os empresários, basta
ouvir o que dizem os presidentes das associações empresariais.
Em quarto lugar, são cada vez mais evidentes os sinais das guerras instaladas no seio do Governo quanto
ao rumo a traçar. O anúncio do regime substituto do regime simplificado de layoff foi feito pelo Sr. Ministro da
Economia, quando esta é uma área tutelada pela Sr.ª Ministra do Trabalho, ademais, à margem e à revelia da
concertação social. Este é um sinal revelador da guerra instalada no Governo.
Em quinto lugar, as medidas que o Governo adotou no combate à crise económica são poucas, não
resolvem nada de estrutural e foram todas, mas foram mesmo todas, tardiamente implementadas.