1 DE OUTUBRO DE 2020
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Neste contexto, Sr.ª Deputada Cecília Meireles, pergunto-lhe se concorda ou não com a nossa sexta e
derradeira conclusão, a de que o Governo tem, e teve, condições e a obrigação de fazer muito, de fazer
mesmo muito mais, se quiser evitar o encerramento de milhares de empresas e o despedimento de milhares
de trabalhadores, que nos conduziriam, inevitavelmente, a uma derrocada social de dimensão gigantesca.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr. Deputado João Cotrim de Figueiredo, do Iniciativa Liberal, tem a palavra para um pedido de esclarecimento.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Cecília Meireles, muito lhe agradeço por ter trazido este tema.
Não fazia tenções de lhe pedir um esclarecimento, mas houve algo que me deixou a pensar e gostava de
ouvir a sua opinião sobre aquilo a que posso chamar um fenómeno grave e exemplificativo de dissonância
cognitiva. Da próxima vez que me perguntarem o que é, apontarei para esta bancada do PS e direi: «Este é
um exemplo de dissonância cognitiva.» Ou, para aqueles que não gostam tanto do jargão técnico, é: «Olha
para o que digo, não olhes para o que faço!»
O Sr. Pedro do Carmo (PS): — Ah! Muito bem…
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — É que, relativamente à situação, de cujo diagnóstico, em boa parte, partilho, há um aspeto que acho particularmente curioso: quando o Governo apresenta o seu Plano de
Recuperação, apesar de o seu próprio «paraministro» Eng.º Costa Silva mencionar que são as empresas que
criam riqueza e emprego, vamos ver esse Plano de Recuperação e as empresas estão uma nota de pé de
página, algures, como beneficiários indiretos de infraestruturas, de qualificações, com uma presença muito
pouco importante.
Quando o próprio Primeiro-Ministro diz que é fundamental mobilizarmos as energias, quer de empresas,
quer de cidadãos, o que é que vemos? Um apelo pífio a essa mesma participação e não se vê bem onde é
que os cidadãos podem colaborar.
A estrutura de decisão e de avaliação e os critérios para estes fundos que aí vêm mantêm-se exatamente
os mesmos que tínhamos nos fundos estruturais europeus.
Portanto, entusiasmo, que é o que era preciso, não vemos. O que é que vemos? A fila de empresas e de
consultoras clientelares do Estado à espera de abocanhar esse bolo grande que aí vem.
Acho que não é assim que se deve fazer um plano de recuperação, acho que é um fenómeno claro de
dissonância cognitiva. Mas, Sr.ª Deputada, posso estar completamente errado e gostava de ter a sua opinião.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr.ª Deputada Cecília Meireles, no total, quatro Deputados inscreveram-se para pedir esclarecimentos. Pretende responder dois a dois?
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sim, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Muito bem, Sr.ª Deputada. Tem a palavra para responder.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, gostava de agradecer aos Srs. Deputados Jorge Paulo Oliveira e João Cotrim de Figueiredo as suas questões.
Acho que vale a pena, neste momento, lembrarmo-nos de uma coisa: a realidade que temos é a de que a
economia não está a funcionar como é habitual. Parte das empresas está parada, ou a andar mais devagar,
ou com menos encomendas. E essa situação, infelizmente — e sublinho «infelizmente» —, vai manter-se
enquanto o mundo estiver nesta situação, até porque, mesmo que as coisas fossem diferentes em Portugal,
seriam assim no resto do mundo.