I SÉRIE — NÚMERO 13
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O próprio Governo reconheceu que todo o programa dependente dos fundos comunitários está
diferenciado deste Orçamento do Estado. São fundos, na sua larguíssima maioria, pagos a fundo perdido, com
comparticipação a 100%, por isso não devemos misturá-los com as escolhas que estão a ser feitas neste
Orçamento do Estado. Como é óbvio, do ponto de vista de estratégia económica, não estão separados,
porque os resultados dos investimentos dos fundos comunitários veem-se também na recuperação da
economia, mas não estão a ser debatidos na discussão da proposta de lei do Orçamento do Estado e, mesmo
no espaço do investimento público, não dependem do Orçamento do Estado, dado serem completamente
pagos pelos fundos comunitários. Desse ponto de vista, temos de separar, portanto, as duas situações.
Quero dizer-lhe, sobre essa gestão dos fundos comunitários, que já tivemos oportunidade de fazer a nossa
resposta ao Governo, considerando que a proposta apresentada pela Comissão Europeia tem o problema de
impedir o investimento em medidas estruturais e de só apontar para medidas extraordinárias, faltando, por
isso, um pilar fundamental relativamente àquilo em que poderiam ser usados.
Vou também responder-lhe à questão sobre a política de rendimentos, que não se faz apenas através da
política fiscal. Dissemos ao Governo que, nas expetativas criadas para a economia e para os trabalhadores,
valorizar os rendimentos é fundamental. Se o Governo disse, há meses, nesta Assembleia, que a proposta
que tinha para apresentar ao País era a de elevar o salário mínimo para os 750 € até ao final da Legislatura,
nós dissemos ao Governo que essa proposta deve ser mantida, aprendendo que foi através dos salários, dos
rendimentos, do investimento no nosso mercado interno que conseguimos, no passado, recuperar de uma
crise económica e social. A resposta do Governo é insatisfatória neste contexto, pois diz que vai aumentá-lo
mas colocando já em causa a fasquia dos 750 €.
Da parte do Bloco de Esquerda, dizemos que a política de rendimentos não pode estar dissociada de uma
resposta profunda à crise.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Vamos passar à próxima declaração política, neste caso do Grupo Parlamentar do PCP.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Diana Ferreira.
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Os últimos meses evidenciaram realidades já conhecidas da rede de equipamentos sociais, nomeadamente dificuldades sentidas pelas instituições e
insuficiências nas respostas aos utentes e às famílias. Os últimos meses demonstraram bem que a atual rede
de equipamentos, assente em respostas transferidas para a rede solidária, responsável pela quase totalidade
dos equipamentos existentes, não está a responder às necessidades, significando, sim, uma
desresponsabilização do Estado na área social e criando situações de dificuldades e de desigualdades no
acesso aos equipamentos.
A desresponsabilização do Estado na garantia de respostas sociais, nomeadamente nos equipamentos
sociais, é fruto da opção política de sucessivos governos que transferiram para as instituições de solidariedade
social uma responsabilidade que é primeiramente do Estado. Esta opção subverteu o papel complementar
atribuído às instituições e traduziu-se no progressivo abandono das responsabilidades constitucionais
atribuídas ao Estado na criação de uma rede pública de equipamentos sociais de âmbito nacional e adequada
às necessidades concretas de cada região no território.
Esta opção política tem consequências, desde logo, para as famílias e para os utentes que, por exemplo,
no caso dos lares, são, muitas vezes, empurrados para lares sem autorizações de funcionamento — os
chamados «lares ilegais» — por não terem vagas na atual rede ou por não poderem suportar os custos. Tem
também consequências na comparticipação das famílias e muitas debatem-se, diariamente, com dificuldades
para garantirem o pagamento da mesma.
Esta opção política tem consequências para as instituições e para os seus trabalhadores, pelo facto de ser
um modelo assente na total responsabilização das IPSS (instituições particulares de solidariedade social), por
via de um financiamento público, que se repercute na acentuação das desigualdades entre instituições, no
plano financeiro, dos recursos humanos e técnicos, refletindo-se ainda nas diferenças de qualidade dos
serviços prestados, entre outras dimensões. Estes trabalhadores, na esmagadora maioria das situações,