15 DE OUTUBRO DE 2020
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ganham o salário mínimo, têm longas jornadas de trabalho, trabalham por turnos, em horário noturno e não
têm a devida compensação e valorização.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: A reflexão e a tomada de medidas para responder às necessidades das
famílias têm de considerar duas dimensões: que rede temos e de que rede precisamos? E é exatamente com
estas duas dimensões sempre presentes que o PCP tem apresentado várias propostas.
Recordamos, desde já, uma iniciativa sobre o envelhecimento com direitos — que resultou numa resolução
da Assembleia da República, em 2018, que, aliás, urge concretizar —, propondo a criação de uma rede
pública de equipamentos e de serviços de apoio à terceira idade (apoio domiciliário, centros de dia,
residências para idosos), uma necessidade que o atual contexto confirma e torna mais urgente.
É preciso uma rede pública de lares e de outros equipamentos e serviços de apoio à terceira idade cujas
valências respondam às necessidades diversas deste grupo social heterogéneo, devendo ser consideradas as
situações de maior ou menor dependência e uma articulação da resposta dos lares com outras respostas
igualmente importantes, como o apoio domiciliário, os centros de dia, entre outros. Importa também que
existam respostas específicas que permitam, além da prestação de cuidados, atividades direcionadas para as
características e para as necessidades identificadas de cada utente.
Recordamos como o PCP tem insistido, também, numa rede pública de creches, apresentando propostas
nesse sentido e contribuindo para que se deem passos decisivos para a gratuitidade da frequência das
creches, mas também para uma resposta que seja universal, devendo esta proporcionar a componente de
guarda e de socialização, considerando as fases de desenvolvimento de cada criança, a idade e o seu próprio
ritmo.
Os últimos meses confirmaram o quão acertada esta intervenção se mostrou. Tivessem sido
imediatamente implementados a gratuitidade das creches e o regime de apoio às famílias, como o PCP
propôs, e muitas famílias não teriam sido confrontadas com problemas por causa das mensalidades nem as
instituições se teriam visto a braços com as dificuldades que enfrentaram.
Para garantir estas respostas mais diferenciadas e mais direcionadas, mas também para responder a
necessidades urgentes que o atual contexto demonstra, é impreterível o reforço de trabalhadores neste setor.
Lembramos que o PCP propôs a contratação de trabalhadores, com direitos, para estas instituições — uma
carência que se arrasta há anos e que se confirma todos os dias —, sendo preciso valorizá-los no concreto,
não só com palmas, elogios e palavras bonitas, e rejeitar qualquer situação de precariedade.
É preciso valorizar os salários destes trabalhadores, as suas carreiras, cumprir as convenções coletivas de
trabalho e as medidas de higiene, de saúde e de segurança no trabalho, para assegurar a sua proteção, ainda
mais necessária no atual contexto, com a exposição a que estão sujeitos, bem como assegurar a necessária
formação a que têm direito. Repito: é preciso reforçar o número de trabalhadores. É preciso que aqueles que
foram, aliás, considerados como trabalhadores de serviços essenciais tenham um suplemento remuneratório,
por força do risco acrescido a que estão expostos atualmente.
A realidade demonstra que uma resposta assente numa rede do setor social e privado não serve as
necessidades existentes. É necessário romper com um modelo assente numa lógica de privatização das
respostas sociais, com o alargamento do negócio para o setor privado e com a proliferação de entidades não
licenciadas. É fundamental definir uma relação do Estado com as instituições assente numa cooperação que
responda aos problemas e às lacunas existentes e que assegure o seu papel complementar. É fundamental
assegurar a existência de uma rede pública de equipamentos sociais — lares, creches e outros — de gestão
pública, na responsabilidade da segurança social, que responda às carências existentes, que combata as
desigualdades no acesso, que promova os direitos dos utentes, com respostas e valências de qualidade e de
proximidade, que considere as necessidades dos utentes e das famílias, que tenha trabalhadores valorizados.
E isto não é mais do que a assunção, por parte do Estado, das suas responsabilidades na garantia de
direitos sociais.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, tem cinco pedidos de esclarecimento. Como pretende responder?