15 DE OUTUBRO DE 2020
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Entendemos, por isso, que é necessário garantir que os trabalhadores desenvolvam a sua atividade em
condições de saúde e de segurança no trabalho. É necessário existir uma regulamentação laboral da sua
atividade que garanta estas condições e, também, as condições de reforma que lhes são devidas, no caso do
desgaste rápido, até antecipada, para além das condições de saúde acrescidas no posto de trabalho.
Sr.as e Srs. Deputados, no caso dos carteiros, esta reivindicação é absolutamente justa. No caso dos CTT,
têm sido os trabalhadores que mais têm sofrido com a gestão privada, que amanhã mesmo debateremos e
que urge reverter. Esta gestão privada tem tido influência tanto no despedimento de trabalhadores como nas
suas condições de trabalho, na organização do trabalho e, também, na própria forma como o serviço cada vez
menos chega aos utentes do nosso País.
É às condições de trabalho dos carteiros a que o Parlamento deve dar reposta e é a isso mesmo que o
Bloco de Esquerda apela no seu projeto.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — A próxima intervenção cabe ao Sr. Deputado Bruno Dias, do PCP.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Permitam-nos saudar todos os carteiros, no ativo e na reforma, todos os trabalhadores dos correios e o Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios
e Telecomunicações aqui presente.
Com a sua resistência, de hoje e de sempre, os trabalhadores dos correios, em particular os carteiros, têm
vindo a ser confrontados com o agravamento das condições de trabalho a um nível insuportável.
Desde que foi iniciado o caminho com vista à privatização da empresa, em 2013, o encerramento de
serviços, a sobrecarga de trabalho, o ataque aos direitos laborais e a quantidade crescente de «giros em
dobra» são múltiplos fatores que contribuem para uma exploração e um desgaste inaceitáveis dos
trabalhadores.
Os trabalhadores e as suas organizações foram alertando para os gravíssimos problemas no
funcionamento do serviço postal e, ao mesmo tempo, para a inaceitável situação que se está a verificar, em
resultado deste modelo de organização que os CTT estão a implantar, agravando a precariedade laboral,
reduzindo postos de trabalho, aumentando os ritmos de trabalho, reduzindo o rendimento dos trabalhadores,
prejudicando os utentes, que recebem o seu correio, por vezes, com vários dias de atraso, e prejudicando as
empresas, que recebem as suas correspondências quase no final do expediente.
Mais recentemente, a administração dos CTT, sob a capa de um pretenso plano de modernização e
investimento, tem vindo a agregar diversos centros de distribuição, fazendo deslocar por conta própria
centenas de trabalhadores para dezenas de quilómetros de distância das suas residências e criando
condições para que a distribuição do correio seja feita ainda mais tarde e degradando ainda mais a já péssima
qualidade de serviço e as péssimas condições de trabalho.
Ouvimos a propaganda em torno da contratação de 800 trabalhadores, no entanto, as contas do primeiro
semestre de 2020 rapidamente desmentiram tal cenário, indicando que tinha havido, de facto, uma redução de
536 trabalhadores num ano.
A situação só não é pior graças à enorme dedicação e esforço dos trabalhadores, que têm levado a cabo
inúmeras ações de luta, reivindicando a admissão de mais trabalhadores e a melhoria das condições, para
acabar com a sobrecarga a que estão sujeitos e para poderem prestar um serviço de melhor qualidade.
A resposta da empresa à epidemia da COVID-19 foi desastrosa. Ao invés de contratar os trabalhadores
necessários para assegurar a operação em condições de segurança, a gestão privada manteve a linha de
redução de trabalhadores, despedindo todos os contratados a prazo, atacando os trabalhadores
condicionados, não renovando contratos com muitos dos agenciados e sobrecarregando brutalmente os
trabalhadores das áreas operacionais, quer nas cargas de trabalho que tiveram de suportar, quer nos riscos
acrescidos que tiveram de assumir.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, o trabalhador não é uma peça descartável e a passagem à reforma não é
álibi para a exploração e a selvajaria. É preciso ouvir os trabalhadores e as suas organizações e dar resposta
concreta aos problemas.