I SÉRIE — NÚMERO 19
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O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Sr.as e Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Estamos a meio do debate orçamental. Esta tarde o Orçamento do Estado para 2021
será votado na generalidade.
Do debate tido até agora, podemos já concluir que daquilo que vemos à direita não há qualquer alternativa
para o Orçamento do Estado. Até agora, não apresentaram ideias e remeteram-se ao papel de comentadores.
O voto contra não será de oposição, será de resignação, a desistência de quem sabe que não conta para as
decisões determinantes do País. Mas engana-se quem pensa que o voto do Bloco de Esquerda se confunde
com o voto da direita. Nem se confunde ideologicamente, ao contrário do que sempre se passou quando o PS
se levantou com a direita para votar contra os direitos de quem trabalha ou para defender os benefícios do setor
financeiro, nem se confunde na renúncia à afirmação de uma alternativa.
Esta esquerda está longe da resignação ou da rendição. O nosso voto é pelo futuro, não pelo regresso ao
passado. Lutamos por aquilo que é essencial ao futuro do País e do nosso povo: reforço do Serviço Nacional
de Saúde; segurança para quem está aflito no desemprego e na miséria; defesa do emprego; proteção do Estado
da pilhagem financeira.
Como se percebeu ao longo do debate, o único partido que tem uma alternativa a este Orçamento do Estado
é o Bloco de Esquerda. Essa alternativa é um conjunto de reformas que a crise provou, de novo, serem urgentes
e que, ainda assim, o PS quer adiar mais uma vez.
Engana-se quem considera que é uma guerra, da mesma forma que está enganado quem acha que são
questões de pormenores. Estão em causa visões diferentes sobre a resposta que devemos dar às pessoas na
maior crise das nossas vidas.
Vamos, então, discutir, a sério, essas diferenças e mostrar como a proposta do Governo falha onde não
podia falhar.
O Sr. Primeiro-Ministro já reconheceu que esta crise expôs a excessiva desregulação do chamado «mercado
de trabalho», mas, quando o Bloco de Esquerda fez propostas concretas, o Governo respondeu com um
documento que mantém as regras da troica e da direita, que tiraram direitos aos trabalhadores.
O Governo não aceitou repor o valor das compensações por despedimento, que foi defendido pelo próprio
PS em 2012, mantendo os despedimentos low cost, impostos por Passos Coelho, que desprotegem os
trabalhadores.
Rejeitaram que ninguém fosse tratado abaixo da lei, recusando a reintegração do princípio do tratamento
mais favorável e nem a recente invenção do alargamento do período experimental, que foi negociado com os
patrões e com a direita, aceitaram retirar.
Perante uma crise que mostra a fragilidade das relações laborais e desprotege o emprego, o Governo quer
manter o essencial como está.
Estamos a assistir a uma enorme onda de despedimentos e o Governo prefere deixar as leis da troica em
vigor do que defender o emprego. Não o podemos aceitar! E, perante a crise social que se agiganta, a proteção
social que o Bloco de Esquerda propôs foi transformada no apoio extraordinário, pontual, que revê em baixa os
apoios sociais criados em 2020.
A Sr.ª Ana Catarina Mendonça Mendes (PS): — Em baixa?!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — A prova da sua fragilidade é que deixa sem resposta um casal de trabalhadores independentes em que ambos tivessem o salário médio antes da crise e, agora, um deles tenha
perdido os rendimentos. Ficam na pobreza e de fora deste apoio. Sabendo desta fragilidade, não a podemos
ignorar.
Mas há mais: a resposta social do Governo tem um impacto muito negativo na construção das carreiras
contributivas e pensões, mantendo, novamente, os cortes da troica no subsídio de desemprego. Porquê insistir
neste erro, sabendo a brutalidade da crise que estamos a enfrentar?
Na saúde, o Governo faz muitos anúncios, mas poucas concretizações. Para não entrar numa disputa de
números com o Governo, pusemos as ferramentas que temos à nossa disposição para perceber o que é
verdadeiro, e deve ser levado a sério, e o que é falso e, por isso mesmo, não deve ser considerado.