29 DE OUTUBRO DE 2020
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Verificação dos factos, fact-checking: a Deputada Catarina Martins já aqui lembrou que não basta lançar
concursos, porque há vagas que ficam sempre desertas. Cerca de um terço das vagas ficam por preencher.
Isso deve-se às baixas remunerações no SNS face aos valores praticados no privado, explicando-se, também,
pela degradação das condições de trabalho, que levam à exaustão. O Bloco de Esquerda falou verdade.
O Sr. Primeiro-Ministro anunciou, ontem, que o orçamento do SNS aumentará 805 milhões de euros, em
2021. A conclusão é a de que os números do Governo são enganadores. A transferência para o SNS, no próximo
ano, com todas as exigências que a pandemia vai colocar, tem reforço de apenas 0,03% face ao executado. Irá
o Sr. Ministro das Finanças dizer que nos enganamos? É que é isso mesmo que está no Relatório do Orçamento
do Estado. E lá também diz que o reforço das despesas com pessoal é menor do que o previsto em 2020. Será
que são estes os enganos do Bloco de Esquerda, Sr. Ministro das Finanças?!
Nesse mesmo Relatório, os dados dizem ainda que, no total, não foi usado 1 cêntimo da despesa prevista
no Orçamento Suplementar para o Serviço Nacional de Saúde. É mais um engano nosso, Srs. Membros do
Governo?! É que, de cada vez que o Governo tenta desmentir o Bloco de Esquerda, o que está a atacar é o
Relatório do Orçamento do Estado que o próprio Governo apresentou. É a credibilidade dos dados do Governo
que fica em causa.
Já quanto aos profissionais do Serviço Nacional de Saúde, o Orçamento do Estado promete o reforço líquido
de 4200 profissionais, dos quais 1500 médicos.
Analisemos, então, como é que o Governo se propõe cumprir essa meta. Ontem, foi entregue ao jornal
Público a mesma calendarização que nos tinha sido entregue. Ainda bem que essa informação foi tornada
pública pelo próprio Governo, pois permite-nos agora constatar que o objetivo previsto no Orçamento do Estado
não será cumprido. Vejamos: dos 4342 profissionais com contrato anunciado, 1500 vagas para médicos vão a
concurso e cerca de um terço ficará por preencher, como o próprio Governo reconhece.
Estamos a falar, ainda, de uma aposentação de 434 médicos especialistas ao longo de 2021.
No total, falamos de um reforço apenas de cerca de 600 médicos no Serviço Nacional de Saúde, ao longo
do próximo ano.
E nas restantes profissões? O Governo vai regular o vínculo de 2200 profissionais, mas estas pessoas já
trabalham no Serviço Nacional de Saúde com contratos de quatro meses. Devemos-lhe o contrato, é certo, mas
não são um reforço líquido dos serviços. Do reforço líquido de 4200 profissionais, anunciado pelo Governo,
teremos, na melhor das hipóteses, apenas 1500 pessoas a entrar no SNS e, na sua maioria, só no último
trimestre de 2021. Enganar-se nas contas, é isto, Sr. Ministro, João Leão.
Isto quer dizer que o Orçamento do Estado não vai ser cumprido. E, já agora, desafio o Sr. Primeiro-Ministro
ou a Sr.ª Ministra da Saúde a provarem que estamos errados. É que já dissemos tudo isto ao Governo e nunca
nos conseguiram dar explicações.
Mais: nunca esclareceram, sequer, devidamente porque é que rejeitam propostas como a da dedicação
exclusiva dos profissionais, por exemplo.
Nós lembramo-nos do que foi a geringonça. Apoucada pela direita, teve a coragem de mostrar que havia um
caminho que permitia recuperar rendimentos e direitos, mas foi o Governo que há um ano recusou renová-la,
optando pela negociação anual dos Orçamentos sem metas comuns para a Legislatura. Pois bem, é isso mesmo
que estamos aqui a fazer.
Menos compreensível é que o próprio PS, que se desinteressou pela geringonça em 2020, a substitua pelo
anátema e pela hostilidade em 2021.
A Sr.ª Ana Catarina Mendonça Mendes (PS): — Isso é falso!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Aliás, os melhores momentos do debate de ontem foram quando quase todos os partidos, Governo incluído, tentaram falar aqui em nome dos eleitores do Bloco. Nós agradecemos a
preocupação de todos e de todas com os sentimentos do eleitorado do Bloco de Esquerda, mas é precisamente
porque respeitamos o mandato que dele recebemos que não podemos ignorar as falhas deste Orçamento do
Estado, num momento tão exigente.
Vozes do BE: — Muito bem!