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I SÉRIE — NÚMERO 19

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O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Esta é a esquerda que cumpre a sua palavra. E à luz dessa exigência que o País pede, como se pode qualificar este Orçamento do Estado? Como diriam os fact-checkers, este é um

Orçamento enganador!

Parece ter uma nova prestação social, mas tem o apoio extraordinário e limitado que não chega a todas as

pessoas que dele precisarão. Parece defender o SNS, mas não lhe garante os meios e os profissionais para

fazer face à pandemia. Parece preocupar-se com quem trabalha, mas mantém a direita e a troica a mandarem

nas relações laborais. Parece defender o Estado do saco financeiro, mas continua a ter a porta aberta ao fundo

abutre Lone Star. Parece ser um Orçamento para enfrentar a crise, mas falha em áreas essenciais.

Pode este Orçamento deixar de ser enganador e passar no teste da realidade? As nossas propostas são

públicas e decorrem de um processo negocial, em que fomos absolutamente transparentes, já o disse: reforço

do SNS; defesa do emprego e proteção do Estado da pilhagem financeira; segurança para quem está aflito no

desemprego e na miséria; não deixar ninguém para trás.

São essas mesmas propostas que voltarão à mesa do Partido Socialista. A clarificação política será a

resposta a estas medidas urgentes.

Aplausos do BE.

Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente António Filipe.

O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, não há pedidos de esclarecimento, pelo que vamos passar à próxima intervenção.

Pelo PS, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Pereira.

O Sr. Carlos Pereira (PS): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: No final de 2015, Francisco Louçã escreveu um artigo de opinião cujo título era Tudo depende da

Perspetiva e dava o exemplo da Torre de Pisa para concluir que: «O que é preciso é escolher porque a torre

continuará inclinada como antes. Mas nós teremos escolhido o que queremos».

Ora, lembro esta passagem para sublinhar precisamente que a perspetiva não altera a realidade. O Bloco de

Esquerda escolheu o que quis, conforme advoga o seu mentor. Escolheu a perspetiva de não valorizar o

Orçamento com mais apoios sociais desta democracia; escolheu a perspetiva de fingir que este não é o

Orçamento com mais investimento público desde 2010 e escolheu a perspetiva de ignorar o Orçamento do

Estado com o maior reforço do Serviço Nacional de Saúde desde 2015.

Foi esta a perspetiva que o Bloco de Esquerda escolheu, mesmo que a sua realidade tivesse sido pedir tudo

isto num processo negocial interrompido a meio numa peculiar e insólita desistência daquela que é hoje a

realidade do País. O anunciado voto contra é, por isso, o anúncio da desistência do País.

Aplausos do PS.

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Já o líder do PSD ressuscitou o diabo. Votará hoje contra porque,

segundo ele, há tudo para todos e, ainda por cima, há aumento de salário mínimo. Para o Deputado Rui Rio um

Orçamento de crise, a pior das nossas vidas, não deve tentar dar o que pode ser dado para aliviar o sofrimento,

para combater a degradação dos indicadores sociais e para proteger a economia e o emprego.

Nas escrituras do líder do PSD, as políticas em tempo de crise devem ser aquelas que acrescentam mais

crise: a famosa e já cansativa estratégia da austeridade que, quando o consumo cai, escolhe o caminho de

retirar rendimentos; quando o mercado não gera condições de crescimento económico, o caminho é cortar na

despesa, negligenciando a relevância do investimento publico.

É verdade que o líder da bancada do PSD lembrou, numa entrevista a um jornal nacional, que o voto contra

no Orçamento do Estado é apenas uma birra do seu partido, numa espécie de crise de ciúmes encapotada,

abandonando os portugueses e juntando-se à perspetiva de Louçã e do seu Bloco e contra a realidade do País,

contra a realidade do Orçamento e sem nenhuma consideração pelo princípio da responsabilidade que os

tempos exigem.