29 DE OUTUBRO DE 2020
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O Sr. Hugo Costa (PS): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Ministro das Finanças, ao longo de um período significativo da nossa história mais recente, a
direita parlamentar tentou fazer-nos acreditar no Estado mínimo e insistiu no ataque ideológico ao investimento
público, tentando diabolizá-lo — o famoso diabo que aí vinha!
Hoje, alguns clamam por mais Estado, porque a crise torna qualquer defensor do neoliberalismo num
autêntico keynesiano.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Isso é que era bom!
O Sr. Hugo Costa (PS): — Veremos certamente isso nas próximas semanas, no debate na especialidade. Hoje, até o insuspeito Dr. Vítor Gaspar assina um estudo do também insuspeito Fundo Monetário Internacional,
a sublinhar que este é o momento do investimento público. Só o PSD, aparentemente, continua a acreditar na
austeridade, excetuando quando pede tudo e o seu contrário.
Esta afirmação não é mais do que a assunção plena do erro económico e social que foi a célebre estratégia
de «ir além da troica» e este é, reconhecidamente, o momento de afirmar as políticas públicas pela positiva,
apostando no investimento público de qualidade, com efeitos multiplicadores na nossa economia.
A atual situação pandémica criou uma crise económica e social, com causas externas. Esta situação colocou
novos e importantes desafios: são tempos de dificuldade mas, simultaneamente, de confiança, de resiliência e
de aposta na recuperação económica. A proposta de lei de Orçamento do Estado para o ano 2021, que hoje
debatemos, na generalidade, segue em direção a essa linha, assente numa política económica contracíclica,
que visa a recuperação económica e social.
O Sr. Miguel Matos (PS): — Muito bem!
O Sr. Hugo Costa (PS): — Sr.as e Srs. Deputados, esta é uma proposta de Orçamento que, apesar da crise, não se poupa a esforços para apoiar os portugueses, nem deixa de aumentar o investimento nas áreas críticas
de serviço público, tendo a saúde como prioridade das prioridades. A aposta em novos hospitais é, por isso, um
exemplo. Além disso, devemos sublinhar o investimento na escola pública. O Orçamento que hoje aqui
discutimos prevê um forte crescimento do investimento público superior a 23%, um acréscimo de 1000 milhões
de euros. É por isso que a direita é contra este Orçamento. A direita é contra o investimento público, é contra
dar dinheiro ao Serviço Nacional de Saúde e é contra dar dinheiro à escola pública.
Queremos saber, Sr. Ministro, o que leva o Governo a adotar uma política contracíclica num momento de
crise, contrariando o modelo adotado na anterior crise. Não acha estranho que forças à esquerda prefiram neste
Orçamento entrar na fotografia de quem defende o Estado mínimo?
Os próximos anos serão decisivos para Portugal, tendo em conta que, em resultado das negociações
europeias, o País vai receber o maior pacote financeiro europeu de sempre, que pode chegar a 58 000 milhões
de euros.
Esta proposta de Orçamento dá continuidade a uma estratégia de aposta na ferrovia, crucial para a
descarbonização e para a mobilidade.
Este é, igualmente, um Orçamento que prevê o reforço do valor previsto para apoiar os passes sociais e a
redução das portagens do interior.
Outro setor que vai assistir ao maior investimento de sempre é o da habitação, assegurando o aumento da
oferta pública, que vai traduzir-se no avanço da concretização de um direito consagrado constitucionalmente.
Sr. Ministro, por fim, questiono-o se este é o Orçamento do Estado que lança a estratégia do Plano de
Recuperação e Resiliência e se o investimento público não é crucial para garantir o emprego e apoiar as
empresas.
Como é possível a direita parlamentar continuar a não compreender que esta é única solução para responder
a esta crise.
Aplausos do PS.