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I SÉRIE — NÚMERO 21

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A nossa posição é determinada por uma preocupação séria com o que está a acontecer aos portugueses, e

não há margem para mais erros. Por outro lado, repetimos: medidas mais restritivas implicam apoios mais

substanciais à economia.

Sublinhamos que o Governo poderia — e deveria — ter partilhado, ontem e não amanhã, as suas opções e

os contornos destas medidas antes da votação que aqui vamos fazer.

É tempo de o Governo se começar a comportar à altura do que exige aos portugueses.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: — É a vez do Grupo Parlamentar do PAN. Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real.

A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: A declaração do estado de emergência tem um caráter absolutamente excecional e as suas

sucessivas renovações não devem, de forma alguma, enfraquecer a nossa democracia ou gerar a perda de

confiança das cidadãs e dos cidadãos na capacidade das instituições ou nos órgãos de soberania.

Contudo, a situação que vivemos é, manifestamente, preocupante. Só no dia de ontem, Portugal registou

mais de 7000 casos, um número que ultrapassa o pico do período da crise que ocorreu no início do ano, pelo

que é certo que o levantamento do estado de emergência a este tempo não iria acautelar o bem maior que cada

um de nós tem, que é a saúde ou até mesmo a vida.

Mas o declarar do estado de emergência precisa de ser acompanhado de medidas de fundo que garantam,

desde logo, a capacidade de resposta e de preparação da sociedade para episódios de crise sanitária, o que

até aqui não tem acontecido.

O País precisa não só que a utilização de medidas com base neste instrumento obedeça a critérios de

proporcionalidade ou necessidade, com uma justificação clara ou uma garantia da sua exequibilidade ou

eficácia, mas também da antecipação de um processo normativo que seja capaz de dar uma resposta mais

adequada a esta crise sanitária e, paralelamente, de caminhar para a normalidade constitucional, o que até aqui

não tem acontecido.

Não se anteciparam, desde o verão, as dificuldades que ainda aí vinham com o desconfinamento, a par das

mensagens contraditórias, e mesmo medidas incompreensíveis, que em nada contribuíram para promover

comportamentos individuais de maior responsabilidade.

Urge, por isso, adaptar não só o discurso e as políticas, mas, acima de tudo, o ordenamento jurídico, para

prever claramente situações futuras de crises sanitárias, como, por exemplo, o funcionamento do teletrabalho,

o desfasamento dos horários de trabalho, o ensino à distância ou até mesmo as restrições de circulação ou

funcionamento das diferentes atividades, sem com isso descurar as respostas públicas, como, por exemplo, nos

transportes, com a garantia de distanciamento social, e tendo todos acesso aos mesmos meios.

O quase contínuo uso da figura do estado de emergência como solução para a restrição de direitos,

liberdades e garantias é suscetível de gerar uma incerteza jurídica que não é condicente com um Estado

democrático e de direito como é o nosso.

Sobre o decreto que aqui discutimos, registamos, contudo, como positiva a salvaguarda do apoio a pessoas

idosas ou a terceiros, nomeadamente através dos seus familiares ou entes queridos, pois era, de facto, um

aspeto para o qual o PAN vinha reiteradamente a alertar. E é preciso garantir que estamos preparados para os

efeitos que o confinamento ainda pode ter, uma vez que a forma como nos relacionamos — não tenhamos

ilusões — foi alterada profundamente e, hoje, está a promover um maior sentimento de solidão, isolamento e

incapacidade de respostas sociais, o que tem consequências no bem-estar emocional, mental e social.

Por outro lado, não deixamos de ver com preocupação o facto de este decreto abrir a porta ao internamento

compulsivo ou ao confinamento contra a vontade, o que constitui uma das formas mais gravosas de restrição

de direitos, liberdades e garantias. É também preocupante a ausência continuada de respostas para problemas

sociais, como o flagelo da violência doméstica ou o combate à pobreza, que já existiam, bem sabemos, antes

desta crise, mas cujas repercussões não devem pôr em causa o trabalho que até aqui foi feito e que a crise

económica, muito certamente, irá ainda agravar.