25 DE NOVEMBRO DE 2020
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Resulta daqui a perceção clara, entre outras questões, de uma procura de influência em relação ao
resultado da avaliação de impacte ambiental e, portanto, um profundo desrespeito por este instrumento de
política ambiental.
Depois, esta decisão não veio resolver nenhum dos problemas que se pretendia resolver com a construção
de um novo aeroporto de Lisboa: nem resolve os problemas aeroportuários a longo prazo, nem sequer resolve
o problema do Aeroporto Humberto Delgado, que se vai perpetuar em Lisboa, quando o que se pretendia era
exatamente retirar o aeroporto de dentro da cidade de Lisboa.
Acresce ainda que a decisão sobre a localização de uma infraestrutura tão importante como é um
aeroporto não foi pautada pelo interesse público, mas, sim, pelos interesses de quem escolheu a localização,
ou seja, a multinacional Vinci. Ora, se foi a Vinci quem escolheu a localização, fê-lo tendo em vista os seus
próprios interesses e não o interesse público, como, aliás, muito bem se percebe.
Portanto, o que Os Verdes pretendem com esta proposta é, antes de mais, trazer o interesse público para
uma decisão que tem de ser tomada em função da sua importância para o desenvolvimento do País, mas
pretende também dar uma oportunidade ao Governo para resolver um conjunto de problemas que tem pela
frente.
O que pretendemos com esta proposta é que o Governo seja capaz de evitar os atentados ambientais que
a localização no Montijo irá provocar, mas também as mossas que irá provocar ao nível da saúde das
populações. O que pretendemos com esta proposta é que o Governo não se veja obrigado a passar um, eu
diria, verdadeiro atentado de menoridade ao poder local, ao ponto de ponderar alterar a lei para passar por
cima do parecer daquelas autarquias que não estão de acordo. Mas também queremos dar a oportunidade ao
Governo para que não fique ligado ao facto de podermos vir a ser o único País no mundo com um aeroporto
cuja localização foi decidida exclusivamente pela multinacional Vinci.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Passamos agora à proposta, apresentada pelo PCP, de aditamento de um artigo 199.º-A — Controlo público dos sistemas de gestão de resíduos urbanos.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Alma Rivera, doPCP.
A Sr.ª Alma Rivera (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, o setor dos resíduos não pode estar dependente da lógica do lucro e da minimização dos custos de operação, porque
isso significa menos qualidade do serviço prestado às populações, baixos níveis de valorização e reciclagem,
optando-se pela deposição em aterro, mesmo que isso prejudique as populações, mais atropelo e desleixo
pelas normas ambientais. E significa, como significou, péssimas condições de trabalho no setor, varrido a
precariedade e baixos salários.
Por isso, propomos que se inicie o processo de recuperação do controlo público dos sistemas de gestão de
resíduos urbanos, justificado pela salvaguarda do interesse público e para que o País possa atingir as metas e
objetivos ambientais ambiciosos que tem anunciado.
Aproveitamos para destacar, ainda, outras propostas do PCP que nos parecem fundamentais nesta área.
Para a prospeção e exploração dos minerais é necessária uma avaliação ambiental e de grandes
condicionantes que proteja o interesse das pessoas e dos ecossistemas.
Para o bem-estar animal é incontornável e urgente a realização de uma campanha nacional de
esterilização. É crucial reduzir o número de animais abandonados e de rua, e, em simultâneo criar e melhorar
centros de recolha. Claro está que não há milagres, são necessários meios para fazer tudo isso. Por isso, se
as preocupações ambientais que todos demonstram forem verdadeiras irão traduzir-se na aprovação das
propostas do PCP que visam dar meios a quem tem de inspecionar e garantir o cumprimento da lei, a quem
tem de estudar e promover as melhores práticas ambientais, a quem tem de defender o ar, os solos, os rios, a
biodiversidade.
E nada disso se faz sem o reforço da IGAMAOT (Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do
Ordenamento do Território), do ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas), da DGAV
(Direção-Geral de Alimentação e Veterinária) e da APA (Agência Portuguesa do Ambiente).
Aplausos do PCP.