4 DE DEZEMBRO DE 2020
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Sr.as e Srs. Deputados, muitos dos nossos docentes têm uma vida a que chamaria «ambulante», uma vida
instável que também tem um impacto negativo nos projetos educativos.
Urge, de facto, um regime de concursos mais justo, que respeite a progressão na carreira e corrija as
injustiças decorrentes de ultrapassagens entre os pares.
Numa carreira de 8 escalões que passou para 10, a perspetiva de topo de carreira passou a ser quase
impossível. Os reposicionamentos, os congelamentos e os entraves artificialmente criados dividiram e
colocaram em espera os professores que pretendiam o ingresso nos 5.º e 7.º escalões. Neste cenário, vamos
perdendo professores, experiência e saberes adquiridos, vamos perdendo qualidade educativa, vamos
hipotecando o futuro.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Srs. Deputados, a próxima intervenção cabe ao Partido Socialista, pelo que tem a palavra a Sr.ª Deputada Carla Sousa.
A Sr.ª Carla Sousa (PS): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, começo por cumprimentar os peticionários e a FENPROF, aqui presente.
Tem sido um ano, de facto, difícil para os portugueses. Estão obrigados a reinventar os dias, com perda de
relações sociais, infelizmente, para muitos, com perdas laborais, perdas de vidas e perdas de afetos, com
cada um de nós a desejar ardentemente que não se volte a viver uma crise como esta na sua geração ou nas
seguintes.
Em momentos destes, é preciso saber com quem contamos, saber quais as portas que não se fecham,
quando mais precisamos delas abertas. E hoje, tal como no início da pandemia, os professores empenham-se
em dizer «Presente!», em manter a porta aberta, querendo fazer parte da solução e não do problema.
Reinventaram-se nas abordagens, muitos deles ganharam competências novas que colocaram ao dispor dos
alunos para fazer o que melhor sabem fazer: ensinar!
Por isso, mais uma vez, saudamos os professores que estiveram não do lado do Governo, mas do lado do
País e em defesa das futuras gerações.
Esta tarde voltamos a falar deles. Três projetos de resolução e uma petição estão em debate, num tema
que destaca uma ideia-chave: a valorização dos professores e da carreira docente.
Uma parcela deste debate, que não é novo, já foi objeto de reuniões aguerridas na anterior Legislatura. Os
Deputados, nesta Sala, lembrar-se-ão da oportunidade fotográfica e do oportunismo político a que o PSD
sucumbiu, defendendo o que até então lhe tinha parecido exótico. O mesmo partido que tinha negligenciado a
escola pública e os professores em tempos de Governo PàF (Portugal à Frente), defendeu, naquele momento,
recuperar todo o tempo profissional perdido na Legislatura anterior, sem nunca mostrar as contas dos custos,
sem dizer quais os impostos que aumentava ou a despesa que cortava. A leviandade daquela noite teve recuo
no dia seguinte.
A Sr.ª Rosário Gambôa (PS): — Muito bem!
A Sr.ª Carla Sousa (PS): — Muito recentemente, noutras matérias, voltámos a verificar que o PSD voltou a não fazer contas nem a medir consequências políticas das suas ações.
Mas voltemos às propostas em debate, trazidas pela mão da FENPROF e da esquerda parlamentar. E a
pergunta impõe-se: o que é que iniciámos no anterior mandato, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados?
A Sr.ª Cláudia André (PSD): — Boa pergunta!…
A Sr.ª Carla Sousa (PS): — Não foi um processo de valorização da carreira do professor, da sua dignidade profissional?! A esquerda esteve connosco nesse trajeto, a esquerda não pode enjeitar esse percurso de
valorização da escola pública.
Foi um caderno de encargos substancial que volto a lembrar: a revogação de um conjunto de diplomas que
condicionavam o exercício da função, como o fim da bolsa de contratação de escola; a extinção da prova de
avaliação de conhecimentos e capacidades; a revogação das normas sobre requalificação e mobilidade do
pessoal docente de educação pré-escolar e do ensino básico e secundário; a abertura de vagas no mapa do