5 DE DEZEMBRO DE 2020
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Este Relatório fala-nos de normalidade como se normalidade houvesse. Nem todos os trabalhos podem ser
feitos através do teletrabalho e, por isso, são muitos os que precisam de se deslocar para os seus locais de
trabalho, para as escolas em transportes públicos que lhes garantam segurança e onde seja possível manter a
distância exigida.
Contudo, continuamos a assistir a promessas. Apesar de estar estabelecido o limite de pessoas em locais
fechados para os mais diversos espaços, continuamos a não ver aplicada a mesma regra nos transportes
públicos.
Lê-se o Relatório e parece que estamos a falar de outro país.
Refiro os que foram trabalhar mantendo em funcionamento as empresas e os serviços essenciais, os que
assumiram a solidariedade para com os que precisam, mas que não desistiram de agir e lutar por direitos e por
aquilo em que acreditam, e, em particular, os profissionais do Serviço Nacional de Saúde, que, mais uma vez,
deram tudo quanto podiam para minimizar os efeitos do surto epidémico que enfrentamos.
Continua a ser usada a figura do estado de emergência ao fim de quase um ano e as mudanças necessárias
continuam a ser aplicadas a conta-gotas.
Em estado de emergência, opta-se por reduzir novamente os horários dos transportes, que continuam
sobrelotados, apesar de o Relatório nos informar que «têm sido esporádicos e pontuais os eventos em que se
verificaram valores próximos dos 2/3 da capacidade dos veículos».
Existem localidades abandonadas às quais ainda não foi devolvida a mobilidade nem a normalidade dos
cuidados de saúde primários.
As escolas voltaram às suas atividades presenciais, como defendemos, mas não podemos deixar de referir
que é lamentável que um governo que privilegia tanto os meios digitais e o desenvolvimento tecnológico nos
serviços públicos não tenha sido capaz de trabalhar um programa que monitorizasse os casos de COVID-19
nas escolas de todo o território para garantir maior segurança e confiança aos estudantes, à comunidade escolar
e aos encarregados de educação.
E, infelizmente, no presente Relatório nada se diz quanto aos impactos destas medidas na saúde mental,
particularmente dos jovens.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real, do Grupo Parlamentar do PAN.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Apreciamos hoje mais um Relatório do estado de emergência, num contexto em que os números são bastante
claros e em que se verifica uma tendência de crescimento que não só se manteve como ganhou proporções
preocupantes, sendo a média dos casos confirmados de infeção por dia mais do dobro em relação aos valores
do mês anterior. Para além destes números, também assistimos, neste período de estado de emergência, a um
aumento muito expressivo dos casos em internamento hospitalar, e são já mais de 4000 as pessoas que
perderam a sua vida para a COVID-19.
Relativamente à crise económica que vivemos, nos indicadores económicos que este Relatório nos traz,
voltamos a observar uma tendência muito negativa, com a retração do indicador de confiança dos consumidores
em novembro e a redução da confiança dos operadores económicos, uma realidade que, para a conhecermos,
não precisávamos de um relatório, pois basta olharmos para as nossas ruas e para o que tem sido o fecho
sistemático dos vários setores, do comércio e serviços, para percebermos a difícil crise socioeconómica que
estamos a atravessar.
Por isso mesmo, reforçamos o que já temos vindo a dizer: é urgente dar estabilidade e previsibilidade às
medidas tomadas. Só assim conseguimos que os portugueses e as portuguesas ganhem confiança no seu
futuro. E conforme ainda ontem o PAN teve a oportunidade de aqui referir, é absolutamente fundamental que,
de forma estruturada e planeada, se garanta a existência de apoios que permitam dar resposta aos diferentes
setores que estão a ser afetados pela crise, como a cultura, a restauração, o comércio, os serviços, entre tantos
outros.
No entanto, sabemos que as medidas que visam conter ou minimizar o risco de propagação do vírus estão
a produzir efeito, pois, como nos aconselham os especialistas, as medidas atualmente em vigor não devem ser