I SÉRIE — NÚMERO 30
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Protestos do Deputado do PCP Bruno Dias.
O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Este é o manual de como não se está à altura de gerir um processo desta natureza.
E, com este cadastro, com o historial clamoroso de erros cometidos pelo Governo, é difícil que alguém
acredite que o Governo vai conseguir recuperar a empresa. É imperioso que se assegure que este não vai ser
mais um elefante branco.
Este é o dinheiro dos portugueses, que nenhuma palavra tiveram a dizer sobre o tema.
Que estes recursos públicos, estes 3,7 mil milhões de euros — quase tanto como as outras 400 000
empresas portuguesas vão receber a fundo perdido, no decurso da pandemia, em 2020 e 2021! —, apenas
sejam entregues se houver garantias irrefutáveis de que o processo de reestruturação é bem-sucedido. Que a
TAP fique com uma gestão sólida e saudável, que tenha adequada cobertura geográfica para o Porto e para
Faro ou que essas regiões, caso não venham a ser servidas, tenham meios para atrair rotas doutras
companhias, para que seja, como todos seguramente desejamos, uma força motriz da economia e não um
dispendioso sorvedouro de dinheiros públicos.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (António Filipe): — A Mesa regista a inscrição de seis Srs. Deputados para formularem pedidos de esclarecimento.
Como pretende responder, Sr. Deputado?
O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Sr. Presidente, responderei a três e depois a mais três.
O Sr. Presidente: — Assim sendo, tem a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado João Cotrim de Figueiredo, do Iniciativa Liberal.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Cristóvão Norte, obrigado por trazer aqui este tema e pela forma como o trouxe, correndo o risco de enfurecer a bancada
do PS, porque, mais uma vez, traz a TAP aqui a debate, como se este assunto não merecesse ser debatido as
vezes todas que forem necessárias.
Vou começar o meu pedido de esclarecimentos por fazer uma coisa que acho que, em política, nunca se
deve fazer, que é uma profecia. A minha profecia é que, daqui a menos de dois anos, havemos de estar, neste
Hemiciclo, a voltar a debater uma nova injeção de dinheiro público na TAP, com os mesmos argumentos que
até aqui justificaram as decisões que têm sido tomadas: a importância estratégica da companhia para a
economia, para a coesão territorial e para a proteção do emprego e que levou a que, em pouco mais de seis
meses, a fatura tenha passado de 350 milhões para 500 milhões, para 1200 milhões, para 1700 milhões, para
3000 milhões e, agora, para 3700 milhões de euros! Ficará por aqui?!
Bem, acreditaria que pudesse ficar por aqui se tivéssemos a mínima esperança de ter uma estratégia bem
desenhada e bem executada.
Mas, bem desenhada?! Quando é óbvio que não há uma estratégia de saída, é óbvio que não há uma
estratégia de alianças, é óbvio que não há, sequer, uma estratégia negocial com Bruxelas, sobre este plano?!
E bem executada?! Quando nem sequer a equipa de gestão está escolhida? E, um dia que venha a estar
escolhida, só há duas coisas que são certas: não participou no desenho do plano de reestruturação que vai ter
de implementar e vai ganhar menos 30% do que a atual equipa de gestão, o que, na minha modesta opinião,
limita um bocadinho o campo de recrutamento.
E bem executada?! Quando o grande estratega e gestor da TAP é o Ministro Pedro Nuno Santos, cuja
primeira grande análise profunda do que se tem passado na TAP é a de que a empresa cresceu depressa
demais, sem sequer perceber que foi isso que permitiu que o hub de Lisboa tivesse a importância estratégica
e o valor que hoje tem.