I SÉRIE — NÚMERO 30
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É preciso abandonar, de uma vez por todas, o modelo que assenta na detenção de pessoas migrantes,
incluindo menores.
É urgente acabar com estas prisões e implementar modelos alternativos à detenção, que respeitem a
liberdade, a autonomia e os direitos das pessoas migrantes. As soluções alternativas existem, já foram
testadas noutros países e devem também ser implementadas em Portugal.
É necessário também acabar com a securitização da relação do Estado com as pessoas migrantes que
vivem no nosso País e que continuam a ter de lidar com uma polícia para tratar de meros assuntos
administrativos, como a obtenção de autorização de residência.
É o Ministro Eduardo Cabrita a pessoa certa para implementar as mudanças profundas que são
necessárias e urgentes? A resposta é «não».
Pela sua conduta neste caso e pela sua manifesta indisponibilidade para questionar o modelo atual de
relacionamento do Estado com as pessoas migrantes e refugiadas, o ainda Ministro já demonstrou que não
tem condições políticas para permanecer no cargo.
As pessoas migrantes e refugiadas merecem mais respeito e humanismo, merecem melhor do que
remendos num sistema que já provou ter falido há muito tempo.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Srs. Deputados, a Mesa regista quatro inscrições para pedidos de esclarecimento, tendo a Sr.ª Deputada Beatriz Gomes Dias informado a Mesa que pretende responder dois a
dois.
Em primeiro lugar, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Beatriz Gomes Dias, começo por saudá-la por ter trazido a debate este tema, um episódio que muito nos confronta, a todas e a todos, e que
traduz o que de mais grotesco pode existir na nossa sociedade.
Com efeito, este parece ser, aparentemente, um caso isolado. É evidente que, felizmente, no nosso País
não temos episódios que assumam esta gravidade, no entanto, do ponto de vista sistémico, ele revela uma
cultura institucional que é, de facto, questionável. E não querendo, com isto, criar uma generalização que
possa de alguma forma pôr em causa o trabalho sério que muitos dos profissionais que integram esta
estrutura fazem, nomeadamente ao nível das missões humanitárias, no acolhimento de estrangeiros, e que o
fazem de forma séria e digna, há, no entanto, uma componente e uma dimensão deste crime que muito nos
preocupa e que não pode ser ignorada, nomeadamente pelo Governo e pelos responsáveis políticos da tutela.
Posto isto, parece-nos que há, por um lado, uma ausência de respostas atempadas, que não ocorreram,
mas também uma ausência de visão e de reestruturação que já deveria estar a ser partilhada com a
Assembleia da República e que não está a ocorrer.
Por isso, desde logo, Sr.ª Deputada, gostaria de lhe perguntar se nos acompanha na preocupação quanto à
reestruturação, porque se há aspetos da dimensão da segurança das nossas fronteiras que competem,
efetivamente, às soluções dos órgãos de segurança policial, há outros aspetos, nomeadamente de cariz
humanitário ou até mesmo de cariz social ou laboral e administrativo, que não faz qualquer sentido estarem
nas mãos de uma entidade com elevação a órgão de polícia criminal.
Portanto, acompanhamos aquilo que referiu. Não podemos continuar a tratar os cidadãos estrangeiros
como se de criminosos se tratassem e parece-nos que esta mudança do ponto de vista da cultura institucional,
mas também das políticas públicas no nosso País, tem, evidentemente, de ser feita.
O modelo atual está, de facto, caducado, como referiu, e gostaríamos de saber se, no caminho desta
reestruturação, concorda que tem de haver uma avaliação interna prévia e também uma auscultação do
próprio setor, dos profissionais que integram esta estrutura, para que possa haver a identificação de
oportunidades de melhoria do trabalho, mas também o fim do modelo que inclui a segurança privada neste
contexto, que é algo que não tem sido falado, para que seja chamado o quê a quem de direito: à polícia o que
é de polícia, aos órgãos administrativos o que é dos órgãos administrativos e à missão humanitária aquilo que
é de todos nós, nomeadamente o acolhimento de refugiados.
Queria perguntar-lhe se concorda com esta visão e com este caminho.