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17 DE DEZEMBRO DE 2020

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O Sr. Presidente (António Filipe): — Também para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Alma Rivera, do PCP.

A Sr.ª Alma Rivera (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Beatriz Gomes Dias, não há palavras para o que aconteceu a Ihor Homenyuk sob custódia do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Isso é de uma

gravidade absoluta, é hediondo, não há palavras para descrever e, por isso, como temos dito — dissemos a

30 de março, voltámos a dizer a 8 de abril e temos insistido em dizer —, é preciso que exista um apuramento

total de todas as responsabilidades, sejam elas criminais ou do foro disciplinar, de todos os intervenientes que

contribuíram para este assassinato ou que, de alguma forma, com ele pactuaram.

É preciso também tirar ilações a nível da direção. A Diretora do SEF demitiu-se na sequência de uma

entrevista, mas o que nos parece mais grave é que não se tenha demitido na sequência de um homicídio.

Essa é a questão de fundo e é isso que nos preocupa.

Claro que achamos que a responsabilidade do Estado português para com a família, nomeadamente com

indemnização, e todo o apoio que deve ser prestado tem de o ser com a maior brevidade, se é que ainda

vamos a tempo de fazer boa figura. Mas o que é preciso é que estas coisas não aconteçam, e isso passa por

se tomarem medidas, não de superfície, mas de reestruturação do SEF, que justifica que se aprofunde a

separação das funções policiais das administrativas e que se garanta a intervenção de entidades externas que

possam ir fiscalizando e orientando a atuação do SEF, como o Conselho Português para os Refugiados e a

Ordem dos Advogados. De facto, o que esta situação vergonhosa nos revela é que, de cada vez que nos

chega um imigrante, de cada vez que alguém nos pede asilo, de cada vez que alguém tenta aceder ao nosso

País, não podemos tratar essa situação como um caso de polícia. Isso não é aceitável e tem de ser

ultrapassado. Não é aceitável que alguém que procure o nosso País, que venha procurar emprego, como

aconteceu a Ihor, esteja uma noite com algemas e ligaduras a prendê-lo de mãos e pés, já para não falar do

resto.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Beatriz Gomes Dias.

A Sr.ª Beatriz Gomes Dias (BE): — Sr. Presidente, queria agradecer as perguntas colocadas pelas Sr.as Deputadas Inês de Sousa Real e Alma Rivera, que são perguntas muito relevantes.

Vou começar por responder às perguntas que a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real me fez relativamente ao

facto de, ao tratarmos o que aconteceu, que expõe toda a violência e barbaridade que aconteceram no SEF,

estarmos a colocar toda uma força, toda uma estrutura em causa. A questão é que esta foi a face mais visível

da violência, da impunidade e da discricionariedade que acontecem nos centros de instalação temporária ou

nos espaços equiparados a centros de instalação temporária. É essa violência que é preciso combater, e é

preciso fazê-lo de forma sistemática.

Temos de pensar num modelo que olhe para a realidade da vulnerabilidade das pessoas requerentes de

asilo, das pessoas migrantes, e que atenda a essa vulnerabilidade. Por isso, os profissionais que trabalham no

SEF devem ter uma formação contínua sobre questões de migração, devem ser especialistas em migração e

devem saber como responder à vulnerabilidade de pessoas que muitas vezes não dominam a língua

portuguesa, que muitas vezes vêm de contextos de guerra ou de lugares onde são perseguidas e, por isso,

essas pessoas têm especificidades no seu tratamento. Portanto, não pode haver formações temporárias, que

decorram num curto espaço de tempo e que depois não tenham continuidade. É esse o relato do que tem

acontecido.

Se fizermos uma reestruturação do modo de acolhimento das pessoas migrantes nos ECID (Ensino

Continuado Internacional à Distância), os trabalhadores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras também irão

beneficiar dessa remodelação, porque é toda uma outra visão sobre um Serviço de Estrangeiros e Fronteiras

do qual as pessoas migrantes têm uma visão bastante negativa. Ou seja, parece-nos que vivemos em dois

países diferentes: um país onde as pessoas migrantes não têm direitos nenhuns, são tratadas com descaso e

de uma forma subalterna, e outro país onde esta realidade não acontece. É preciso juntar estes dois países,

fazer coincidir estas duas realidades para que todas as pessoas possam ser respeitadas e também para que

os trabalhadores do SEF possam ver o seu trabalho reconhecido e não serem associados a estas mensagens