I SÉRIE — NÚMERO 30
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O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): —É preciso aumentar os apoios à criação artística, garantindo que o reforço orçamental consagrado por propostas do PCP chegue ao terreno o mais rápido possível.
Além disso, a transformação que se exige é drástica para que as artes e a cultura se libertem da pressão
operada pelos grandes interesses privados, que encontram na livre produção e fruição cultural e artística um
obstáculo ao seu projeto de domínio económico e de hegemonia ideológica, pressões que muitas vezes
encontram respaldo em sucessivos governos, que têm convivido mal, muito mal, com a ideia de um tecido
cultural vivo, crítico, interventivo, livre e popular.
O PCP defende que é urgente olhar para as artes e para a cultura de um modo radicalmente diferente,
como um efetivo serviço público, em que a luta fratricida pelo acesso a financiamento dito competitivo ou
concursal deixa de fazer qualquer sentido.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Basta de ouvir todos os anos dizer que «esta» companhia de teatro, «aquele» artista plástico ou «aquela» produtora ou «aquele» realizador de cinema são excluídos do
financiamento público.
Faz tanto sentido como dizer que, neste ano, umas escolas têm financiamento e outras não, que uns
centros de saúde vão ter apoio ou, até sendo elegíveis para esse apoio, não o vão ter, porque, a continuar
tudo tal e qual como está, os problemas não vão resolver-se, vão agravar-se.
Por isso, o PCP defende que é preciso alterar todo o sistema de financiamento público à criação artística,
seja na DGArtes (Direção-Geral das Artes) ou no ICA (Instituto do Cinema e Audiovisual). Sim, é preciso mais
orçamento, mas é também preciso um plano e a coragem de confrontar os gigantescos interesses de
mercado, como é o caso das plataformas de streaming e a necessidade de defesa do cinema português com a
transformação e a valorização do Instituto do Cinema e Audiovisual, enquanto organismo de serviço público.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — É também preciso tomar medidas urgentes na área do património cultural. É preciso que as muito limitadas e insuficientes medidas orçamentais nesta área se concretizem o mais
rapidamente possível, como a reativação do Plano Nacional de Trabalhos Arqueológicos e as intervenções de
salvaguarda e valorização do património cultural, apesar de o PCP ter proposto que elas fossem muito mais
longe e num sentido muito mais justo.
Aliás, a destruição sistemática de património arqueológico no Alentejo que se vem registando por força,
sobretudo, do agronegócio revelou, com toda a clareza, que o que é preciso é o reforço dos meios do Estado
para a salvaguarda do património cultural e não o abandono quando estorva ou a alienação e concessão ao
desbarato, para gáudio e lucro dos grandes interesses privados, quando dá jeito.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — É urgente a contratação de mais trabalhadores sem vínculos precários e a existência de mais meios técnicos e materiais para a Direcção-Geral do Património Cultural e estruturas
dependentes, como as direções regionais de cultura, que leve a uma estabilização ao longo do tempo, que
permita que todas as funções e missões a que o Estado está acometido possam ser devidamente cumpridas,
questão que, muito justamente, deve ser também considerada para os museus, palácios e monumentos
nacionais.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, só com medidas de fundo em todas as áreas das artes e da cultura
será possível acabar de vez com a enorme precariedade que afeta os seus trabalhadores: dos roadies aos
arqueólogos, dos atores aos guardas e vigilantes dos museus, dos técnicos de luz e som aos bailarinos, dos
músicos aos técnicos de museografia e de serviço educativo, e por aí fora, em cada uma das profissões.