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I SÉRIE — NÚMERO 30

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O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras tem por missão assegurar o controlo das pessoas nas fronteiras,

dos estrangeiros em território nacional, fazer a prevenção e o combate à criminalidade relacionada com a

imigração ilegal e tráfico de seres humanos, gerir os documentos de viagem e de identificação de estrangeiros

e proceder à instrução dos processos de pedido de asilo, na salvaguarda da segurança interna e dos direitos e

liberdades individuais no contexto global da realidade migratória.

Ora, o que aconteceu no dia 12 de março com o cidadão ucraniano Ihor contradiz tudo o que se estipula

como missão do SEF, dado que, em vez de proteger um cidadão, inspetores deste serviço, de acordo com o

que já se apurou, serão responsáveis pela sua morte.

Esta atitude desumana com um ser humano, sujeito a diversos atos de violência atroz, que lhe provocaram

a morte por asfixia mecânica, é algo que só poderemos classificar como um crime hediondo que nos choca e

envergonha a todos enquanto portugueses.

Perante este cenário, temos de exigir consequências quer judiciais, quer políticas.

Para Os Verdes, é urgente proceder-se a uma reflexão séria sobre o SEF, os seus meios, os seus métodos

e os esquemas para a sua fiscalização, reflexão que, integrada numa abordagem mais vasta sobre toda a

segurança interna e não apenas de reação a estes acontecimentos em concreto, pode obrigar a uma profunda

reformulação ou reestruturação do SEF.

O que verdadeiramente está em causa é a garantia de que o Estado tem de assegurar o cumprimento dos

direitos humanos em locais públicos e o dever de garantir e assegurar os princípios do Estado de direito

democrático. Não concorda Sr.ª Deputada?

Mais importante do que a mudança de rostos será a concretização de uma verdadeira política de

imigração, em que se assegure a proteção internacional a todos quantos dela necessitam, em particular no

que respeita aos mais vulneráveis, no respeito da dignidade humana e no cumprimento dos direitos humanos.

E isso só é possível se capacitarmos os serviços de meios humanos, técnicos e materiais adequados ao

exercício das funções pretendidas, com orientações precisas e claras sobre a missão a cumprir.

Aplausos da Deputada do PCP Alma Rivera.

O Sr. Presidente (António Filipe): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Beatriz Gomes Dias.

A Sr.ª Beatriz Gomes Dias (BE): — Sr. Presidente, agradeço as perguntas dos Deputados Bacelar de Vasconcelos, Duarte Marques e Mariana Silva.

Gostaria de começar por responder à pergunta «como é que nós saímos daqui?». Nós saímos desta

situação quando reconhecermos — e tem de ser um reconhecimento nacional — que a questão central deste

problema é a forma como as pessoas migrantes são tratadas em Portugal.

O primeiro contacto das pessoas migrantes em Portugal é feito através do Serviço de Estrangeiros e

Fronteiras. E toda esta cultura, todo este imaginário que desvaloriza as pessoas, que as subalterniza, que as

coloca no lugar de cidadão de segunda categoria e no lugar de criminoso é que permitiu que este bárbaro

crime tivesse acontecido.

Nós só vamos conseguir sair deste lugar quando aceitarmos que o que temos de transformar é o modelo,

que o que temos de transformar é a forma como acolhemos as pessoas migrantes em Portugal. Se

mantivermos modelos assentes em detenção, vamos continuar a perpetuar o mesmo sistema, que vai, a longo

prazo, potenciar uma nova morte.

É isso que precisamos de fazer. Precisamos de entender que o sistema que temos faz com que pessoas

migrantes, para fazerem os seus documentos de identificação, tenham de ir a uma esquadra de polícia — era

a mesma coisa se eu tivesse de ir a uma esquadra da polícia para fazer o meu cartão de cidadã. É isso que

acontece: têm de ir ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, mesmo que seja aos seus serviços

administrativos, têm de ir a uma esquadra de polícia fazer os seus documentos.

Nós não podemos achar que migrante é igual a criminoso, que migrante é igual a perigoso, que migrante é

igual a alguém que deve ser vigiado, que tem de ser controlado. Não podemos continuar a pensar assim. Não

podemos continuar a ter este referencial e não podemos continuar a ter este modelo.

O Sr. Duarte Marques (PSD): — Claro, como é evidente!