I SÉRIE — NÚMERO 32
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É evidente que uma morte é uma morte. Se um cidadão for esfaqueado numa rua de Paris, Bruxelas ou
Londres trata-se de uma morte e, portanto, em valor, isso é sempre uma morte e um ato inaceitável se ele for
vítima do terrorismo. Mas reparem na diferença que há entre a atenção internacional e a atenção mediática dada
a um qualquer atentado cometido em solo europeu — e o escândalo que isso provoca do ponto de vista
internacional — e a atenção dada a centenas ou milhares de pessoas a serem mortas, nos mesmos termos, por
organizações terroristas em Moçambique. É isso que não podemos permitir. Essa atenção tem de ser igual, tem
de ser maior, tem de ser uma preocupação real. A União Europeia tem mecanismos de estabilização, de paz e
de segurança na sua relação com África. Portugal vai assumir a Presidência e, portanto, o que propomos é que
Portugal coloque, claramente, esta matéria na agenda da Presidência europeia e o que pedimos hoje ao
Parlamento é um apoio inequívoco para que este seja um tema importante da próxima Presidência da União
Europeia, assumida pelo Governo português.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Cotrim de Figueiredo, do Iniciativa Liberal.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Há mais de dois meses, neste Hemiciclo, num debate prévio a um Conselho Europeu, disse ao Primeiro-Ministro que era urgente uma
resposta da União Europeia ao conflito em Moçambique e que Portugal deveria liderar esse processo. Mas, para
além da muito recente visita do Ministro da Defesa a Moçambique, não vi nada mais ser feito sobre esta matéria,
apesar dos avisos, apesar das notícias frequentes que a todos preocupam e chocam.
Moçambique pediu, oficialmente, ajuda humanitária e militar à União Europeia, porque não consegue travar
a escalada de grupos armados que estão a espalhar o terror na zona norte do país. Portanto, espero que alguns
à esquerda não venham agora dizer que ajudar Moçambique é uma nova forma de imperialismo ou colonialismo,
quando não é mais do que humanismo. É um país que nos é próximo, membro da CPLP, com milhares de
mortos e centenas de milhares de deslocados, a pedir-nos ajuda, e estou certo de que ninguém nesta Casa
deseja mais mortes de pessoas, mais abusos dos direitos humanos e mais destruição de infraestruturas.
Por isso, para a Iniciativa Liberal é claro que Portugal e a Europa têm o dever de ajudar Moçambique, usando
os devidos canais diplomáticos, incluindo a relação com a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral.
Portugal deve liderar esse processo, especialmente agora, que assumirá a Presidência do Conselho da União
Europeia. Liderar é isto: tomar a iniciativa, a nível europeu e global, e correr riscos em nome dos direitos
humanos de todos os moçambicanos. Por isso, a Iniciativa Liberal irá votar a favor das propostas hoje
apresentadas.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Nunca foi a esquerda que fechou portos a refugiados! Tem de procurar na bancada ao seu lado!
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Carvalho, do PSD.
O Sr. Nuno Miguel Carvalho (PSD): — Sr. Presidente, começo por cumprimentá-lo a si e às Sr.as e Srs. Deputados.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Esta matéria é fundamental para o País, porque Portugal concentra
grande parte da sua ajuda pública ao desenvolvimento, da sua cooperação e da sua política bilateral nos PALOP
(Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa).
É preciso sublinhar que Moçambique tem sido dos países que mais apoios tem recebido de várias
instituições, como do Instituto Camões e da Fundação Aga Khan, que tem uma delegação em Moçambique e
que tem desempenhado um papel crucial. O Instituto Camões tem também desenvolvido um trabalho muito
importante em Moçambique, tal como outras entidades têm desempenhado um papel de grande valor ao nível
da cooperação e de ajuda ao território moçambicano.