19 DE DEZEMBRO DE 2020
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É necessário, por isso, que haja um esforço concertado da comunidade internacional e estruturado em várias
frentes, tanto em termos de segurança como de desenvolvimento e apoio humanitário.
Os vários países e organizações regionais podem dar o seu contributo, e também a CPLP deve ter um papel
relevante a desempenhar, como de resto já o assumiu na última reunião dos ministros dos negócios
estrangeiros. Esta concertação é fundamental e urgente para evitar que a instabilidade alastre no país e a nível
regional.
O terrorismo internacional já atinge de maneira dramática outros países limítrofes, como a Somália, o Quénia
ou a Tanzânia. E, por isso, a situação é muito perigosa e muito preocupante.
Gostaria ainda de sublinhar que foi da maior importância que o Governo moçambicano tenha decidido pedir
formalmente ajuda à União Europeia, numa carta datada de 16 de setembro, o que abriu claramente as
perspetivas de apoio da comunidade internacional.
O Primeiro-Ministro António Costa transmitiu recentemente ao Presidente Nyusi a disponibilidade para apoiar
bilateralmente e, no quadro da União Europeia, nos esforços de combate ao terrorismo em Cabo Delgado. Há
uma semana, o Ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, numa deslocação a Moçambique,
assegurou que, a partir de janeiro, ao abrigo da cooperação na área da defesa, será enviada uma equipa de
militares para dar formação em vários domínios táticos às forças de segurança e defesa moçambicanas, com o
único objetivo de ajudar as autoridades a exercer a sua soberania, sem soldados no terreno.
Por isso, não devem existir quaisquer dúvidas de que, para o Governo português, é uma prioridade apoiar
Moçambique no combate ao terrorismo, no domínio humanitário e noutras áreas de cooperação, mobilizando
todos os recursos diplomáticos ao seu dispor, obviamente a começar pelo imprescindível apoio que pode ser
dado pela União Europeia, tal como será, inevitavelmente, uma das prioridades da Presidência portuguesa da
União Europeia, como, de resto, já está determinado. O próprio alto representante para a política externa, Josep
Borrel, pediu já ao Ministro Augusto Santos Silva que se deslocasse a Moçambique, em representação da União
Europeia, para definir melhor as formas de cooperação.
Portugal não se esquece de Moçambique nem deixará que a comunidade internacional o faça. Sempre, mas
sempre, no respeito pela sua soberania, estaremos na linha da frente para apoiar este país irmão.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado André Ventura, do Chega.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A situação que se passa em Moçambique é dramática. Mas enquanto nos perdemos na discussão sobre se devemos agir mais rápido ou
menos rápido deveríamos colocar os olhos numa imagem de terroristas armados, à porta de uma esquadra, a
dizer «tomámos o controlo da esquadra, em breve tomaremos o controlo do país». E aqueles que discutem hoje
se devemos ou não ter tropas no terreno, se devemos honrar ou não compromissos históricos ou os que dizem
que a culpa é da colonização europeia deveriam olhar para o exemplo da Síria e do Iraque para saber que,
quanto mais tarde agirmos nesta matéria, maior a machadada que podemos dar na humanidade.
Quando a crise começou na Síria, uns disseram «é melhor não intervir, é melhor respeitar o Governo de
Bashar Al-Assad». E o que aconteceu foram cinco anos de luta interminável, que só terminou quando uma
coligação armada pôs fim ao grupo Daesh. Não foi nem a Síria nem o Iraque que puseram fim ao Daesh, foi
uma coligação de forças europeias e norte-americanas que pôs fim ao terrorismo na região.
Temos uma responsabilidade histórica e não podemos permitir que num país de língua portuguesa se instale
um novo foco de terrorismo em todo o continente. A história não nos perdoará se, enquanto discutimos —
compromissos ou soberania? —, os terroristas forem tomando mais controlo do país e lançando as suas ferozes
garras sobre a economia, o tráfico de droga e o contrabando.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. André Ventura (CH): — Vou terminar, Sr. Presidente.