8 DE JANEIRO DE 2021
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Enquanto esta realidade se passa na vida dos portugueses, as empresas de energia ganham lucros de
milhões. Precisamos da criação de uma empresa pública de energias renováveis que garanta a criação de
emprego, que garanta a absorção dos trabalhadores de setores obsoletos e que garanta que, ao mesmo
tempo que se faz a transição energética, se elimina também a pobreza energética no País. Não deixamos
ninguém para trás.
Aplausos do BE.
Outra medida essencial, para o clima e para os direitos sociais, é a aposta nos transportes públicos e o
investimento na ferrovia.
O paradigma do automóvel mostra bem o funcionamento do mercado e o seu falhanço. Existe tecnologia
para que os carros emitam menos, mas o parque automóvel, agora, emite mais. Porquê? Simples: as
empresas passaram a produzir mais os chamados «veículos utilitários desportivos», que são mais pesados,
são menos aerodinâmicos e, portanto, emitem mais — um grande falhanço do mercado.
É por isso que precisamos de transportes públicos, precisamos de investimento público e na ferrovia e
precisamos de acabar com a produção de automóveis movidos a combustíveis fósseis já em 2030.
Temos muitos outros problemas para resolver: a norte do Tejo, a nossa floresta está organizada como uma
mina para a produção da pasta de papel, as nossas áreas protegidas estão desprotegidas, os nossos rios são
tratados como simples baterias de eletricidade, as embalagens supérfluas inundam os nossos supermercados
e a cultura do produto descartável obriga à extração contínua de recursos.
Neste contexto, a educação ambiental e a mudança de comportamentos são importantes e temos várias
medidas para o seu reforço. Mas não nos deixamos enganar: a crise climática e as desigualdades sociais são
resultado deste sistema económico e não de escolhas individuais.
Não aceitamos que o conceito de poluidor-pagador seja uma via verde às grandes empresas para poluírem
mais e um grande sobrecusto na vida das famílias.
É o papel desta lei de bases criar alternativas e novas formas de fazer, mais sustentáveis e justas.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
O Sr. Nelson Peralta (BE): — Há, obviamente, uma componente internacional na lei de bases do clima e o Bloco de Esquerda não pode deixar de saudar o facto de Donald Trump ter sido derrotado e, com isso,
finalmente, os Estados Unidos poderem voltar, novamente, ao Acordo de Paris.
A paz, a solidariedade, a cooperação internacional, o financiamento internacional, a partilha de
conhecimento, o reconhecimento das responsabilidades históricas e o estatuto de refugiado climático são
pedras basilares da humanidade e essenciais ao desenvolvimento das nossas sociedades.
Apenas 100 empresas são responsáveis por 71% das emissões globais. No consumo, o top 10 da
população mais rica é responsável por metade das emissões globais. Quem menos contribuiu para as
alterações climáticas é quem mais sofre com os seus efeitos: as populações empobrecidas, as populações do
sul global e, em particular, as mulheres.
Concluo, assim, reafirmando o caminho que o Bloco propõe: uma lei de bases com metas ambiciosas, com
políticas que mudem o modelo de produção para respeitar o planeta, para proteger os recursos naturais, para
criar emprego, para responder às necessidades sociais e para combater a pobreza.
Juntamos a nossa voz à dos jovens que têm estado nas ruas na greve climática internacional, que inundam
as ruas com uma mensagem de esperança e com uma exigência de futuro. É por isso que temos de agir já.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Luís Leite Ramos, do Grupo Parlamentar do PSD, para apresentação do Projeto de Lei n.º 598/XIV/2.ª.
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sr. Secretário de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: A política climática é um instrumento essencial ao desenvolvimento de uma economia sustentável,