I SÉRIE — NÚMERO 37
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Dos seis candidatos indicados pelos Conselhos Superiores, sem qualquer graduação, repito, a Sr.ª Ministra
da Justiça escolhe três, aqui começando e terminando a intervenção do Governo. Ademais, não se percebe
porque é que a Sr.ª Ministra excluiu o candidato selecionado pelo Conselho Superior da Magistratura, num júri,
de resto, presidido pelo atual Sr. Secretário de Estado Adjunto e da Justiça, Dr. Mário Belo Morgado, que, afinal,
até era o único que reunia o requisito da categoria profissional exigido pelo Conselho da Europa.
Mas o Governo não respeitou a seleção feita pelo comité europeu e, à revelia da legislação aplicável, quis
indicar alguém da sua confiança política e pessoal. Por não ser esse o modus operandi expectável de um
Estado-Membro, o Conselho instou o Governo a justificar e fundamentar a escolha que fez, em preterição da
candidata selecionada pelo comité europeu. Nas palavras da Sr.ª Ministra, foi pedida informação mais fina, mas
já todos conhecemos a fineza da informação e fundamentação que foi enviada para o Conselho: um conjunto
de falsidades, todas elas dirigidas a pintar um quadro profissional muito atrativo do escolhido pelo Governo.
Que isto fique bem claro: não só nada nos move contra o Sr. Procurador José Guerra como lamentamos
profundamente que a atuação do Governo tenha fragilizado muito a posição em que ele está, com grave prejuízo,
também, para Portugal.
É extraordinária a ousadia do Sr. Primeiro-Ministro em vir a terreiro, cirurgicamente, pouco tempo antes de a
Sr.ª Ministra da Justiça vir prestar esclarecimentos aos Deputados…
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Peço que conclua, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Mónica Quintela (PSD): — Muito obrigada, Sr.ª Presidente.
Fê-lo, precisamente, para desviar as atenções dessa audição, dando uma conferência de imprensa com o
único propósito de desviar o tema, o qual é da máxima gravidade, permitindo-se proferir um conjunto de
afirmações que me abstenho de qualificar, desferindo ataques pessoais a quem tem a obrigação constitucional
de escrutinar a ação do Governo,…
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Tem de concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Mónica Quintela (PSD): — … ainda por cima numa matéria desta importância e sensibilidade. Reina
o sentimento total de impunidade.
O Governo mentiu ao Conselho.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Sr.ª Deputada, tem de concluir.
A Sr.ª Mónica Quintela (PSD): — Sr.ª Presidente, deixe-me concluir.
O Governo mentiu ao Conselho e levou a que este tomasse uma decisão baseada em pressupostos falsos.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Muito obrigada, Sr.ª Deputada. Já excedeu largamente o seu tempo.
A Sr.ª Mónica Quintela (PSD): — Sr.ª Presidente, deixe-me concluir.
Foi posto em causa o princípio da lealdade e cooperação entre os Estados-Membros e o Conselho. Foi posta
em causa a credibilidade e confiança do Governo português. Foi posta em causa a justiça portuguesa.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Tem mesmo de concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Vou concluir, Sr.ª Presidente.
Srs. Deputados, não podemos permitir e pactuar com a postura que o Governo teve em todo este processo
e têm de ser tiradas as devidas ilações e as inerentes consequências políticas.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — A Mesa regista cinco inscrições para pedir esclarecimentos.
Como deseja responder, Sr.ª Deputada?