I SÉRIE — NÚMERO 41
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Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Não é por isso que me inibo, iniciando a minha intervenção, de dizer
aquilo que o Grupo Parlamentar do CDS-PP entende sobre esta matéria.
De princípio, passo a referir duas questões muito claras.
Em primeiro lugar, não aceitamos que se diabolizem setores da sociedade. Quando falamos do
associativismo, falamos de um setor importantíssimo em qualquer sociedade e na sociedade portuguesa e,
portanto, não há um setor obscuro do associativismo, que é o setor desportivo, que tem de ser tratado de forma
completamente diferente de outros setores. No entanto, no desporto, como noutras áreas, há matérias de
eventual conflito de interesses, que, essas sim, devem ser analisadas.
Portanto, do nosso ponto de vista, é exclusivamente no âmbito de eventuais conflitos de interesses que a
questão deve ser analisada. E isso coloca, desde logo, uma questão, que é a da diferença entre o desporto
profissional e o desporto amador, algo que não é claro no projeto de lei do Bloco de Esquerda.
O Sr. António Filipe (PCP): — O projeto não é do Bloco de Esquerda, é do PAN!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Peço desculpa, tudo o que disse, até agora, relativamente ao
Bloco de Esquerda deve aplicar-se ao PAN, ficando correto, desde já.
Aquilo que o PAN apresenta no seu projeto de lei não é uma formulação que permita fazer, claramente, essa
distinção. Portanto, do nosso ponto de vista, qualquer eventual conflito de interesses que exista entre um cargo
de dirigente desportivo e o mandato de Deputado tem de ser separado entre aquilo que é desporto profissional
e aquilo que é desporto amador.
Por outro lado, é muito relevante a distinção entre impedimentos e incompatibilidades e, mais uma vez,
parece-nos que o projeto do Bloco de Esquerda não vai pelo caminho certo.
O Sr. António Filipe (PCP): — O projeto de lei é do PAN!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Deputado, isto não está fácil. Mais uma vez, trata-se do
projeto de lei do PAN e não do Bloco de Esquerda.
O projeto de lei do PAN não faz a classificação devida, porque se entendemos que se trata de eventuais
conflitos de interesses, obviamente que isso tem de ser tratado no âmbito das incompatibilidades e não no
âmbito dos impedimentos.
Por isso, tendo estas posições de princípio, não temos problema nenhum em discutir eventuais áreas
cinzentas em que essas incompatibilidades possam acontecer e que seja necessário clarificá-las do ponto de
vista do exercício do mandato de Deputado. Mas nunca nos termos em que o PAN aqui apresenta, nunca em
termos, como o Sr. Deputado André Silva fez na sua intervenção — tenho de o assinalar —, que misturam o
combate à corrupção, seja no desporto, seja noutra área qualquer, com o debate sobre o estatuto dos
Deputados. Ninguém é corrupto por ser Deputado, ninguém é corrupto por ser dirigente desportivo e ninguém é
corrupto por ser as duas coisas ao mesmo tempo! Aquilo que faz no âmbito do dirigismo desportivo pode ser
incompatível com aquilo que faz no exercício do seu mandato de Deputado, mas então é aí que tem de se tratar,
não com uma suspeita generalizada que, como acontece normalmente com as suspeitas generalizadas, não
ajuda a combater o problema e a diminuir o risco.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Sr. Deputado, chamo-lhe a atenção para o tempo.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Pelo contrário, ajuda a diluir todas as realidades numa só, não permitindo distinguir o que, efetivamente, deve
ser combatido enquanto corrupção e aquilo que não deve ser misturado nesse lodo.
O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Sara Madruga da Costa,
do PSD.