I SÉRIE — NÚMERO 43
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Portanto, convém que tudo isto esteja transparente. Tão transparente quanto reconhecemos que,
obviamente, o serviço da dívida vai ser mais baixo se este endividamento for assumido pelo conjunto da União
do que seria se cada país o fosse fazer individualmente. Mas é dívida, tem de ser paga e tem um custo!
Nós temos de contar a história toda! Temos de contar a história toda às pessoas para que depois não haja
aquilo que existe normalmente, que é uma desconfiança sobre o projeto europeu.
Depois, vamos lá a essa questão dos recursos próprios. Recursos próprios de quem? São da União? A União
produz alguma coisa para ter recursos próprios? A União explora algum recurso para ter recursos próprios? Os
únicos recursos que a União tem vêm dos Estados-Membros e os recursos que os Estados-Membros têm vêm
dos seus contribuintes. Portanto, os recursos próprios são próprios de cada um de nós! São próprios de cada
contribuinte!
Então, que se diga se cada um de nós, enquanto contribuinte, está ou não disponível para pagar a
recuperação e um plano de recuperação organizado ao nível europeu. Eu acho que a generalidade das pessoas
estará disponível, desde que isso seja equilibrado e transparente.
Portanto, o nosso voto será de abstenção, por uma razão muito simples: achamos que o processo não é
transparente, que estes recursos próprios são dos contribuintes…
O Sr. Presidente: — Peço que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Vou concluir, Sr. Presidente.
… e, mais, que aquilo que foi dito que ia ser a essência destes recursos próprios, ou seja, as transações
financeiras e o digital, pura e simplesmente não existe, neste momento. A única coisa que existe é o aumento
da carga fiscal sobre os contribuintes, a propósito da taxação do plástico.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real, do PAN.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sr. Secretário de Estado dos Assuntos
Parlamentares, Sr.as e Srs. Deputados: A proposta que hoje debatemos vem trazer o enquadramento da famosa
«bazuca europeia», mostrar que, em conjunto, o projeto europeu pode ser reforçado e, ainda, que é possível
uma Europa verdadeiramente solidária entre os seus Estados-Membros, apesar das diferenças
socioeconómicas que possamos ter.
Saudamos, por isso, vivamente que, para fazer face às consequências económicas desta crise, se tenha
previsto este mecanismo de emissão conjunta da dívida, uma solução que assegura a partilha do risco, que
impede o acréscimo de endividamento associado aos gastos com a crise sanitária e que impede também o
aumento dos prémios de risco nacionais ou, no limite, uma nova crise da dívida soberana, abrindo assim
caminho para a consolidação de um verdadeiro pilar social europeu que contribua para dar respostas à crise
global que vivemos.
Saudamos também a importância da diversificação das fontes de receita para a União Europeia, em particular
em matéria ambiental. Não podemos deixar de saudar que, através de uma contribuição nacional, calculada
com base nos resíduos de embalagens de plástico não reciclados, se tenha definido a taxa de 80 cêntimos por
tonelada de plástico não reciclado, uma reivindicação que há muito o PAN vem defendendo de que os custos
ambientais devem ser incluídos nos custos dos bens ou serviços por forma a refletir o seu verdadeiro custo
económico.
Esta proposta vem assegurá-lo e vem criar incentivos para que os Estados-Membros possam aumentar a
reciclagem de plásticos, uma medida fundamental quer para o nosso País quer para a proteção da
biodiversidade, considerando que hoje temos uma taxa de reciclagem de apenas 15%, que é, de facto,
baixíssima para as metas ambientais do ponto de vista nacional e europeu.
Acima de tudo, é uma proposta que poderá levar ao alargamento destas medidas a outros bens ou serviços
que, por não internalizarem o custo ambiental, continuam a contribuir para uma economia marcadamente
extrativista, que é a principal responsável pela crise de emergência climática que também vivemos. Esta
perspetiva economista só pode continuar a dominar porque tem dado jeito aos poderes estabelecidos e aos
setores que até aqui têm permanecido intocáveis. Portanto, é realmente uma evolução aquilo a que estamos a
assistir em relação a esta taxa.