I SÉRIE — NÚMERO 43
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Para terminar, Sr. Presidente, deixo, a título de sugestão de reflexão, que pensemos todos um pouco no
seguinte: que mercados financiariam o Estado de Portugal nestes montantes e a que taxas de juro? Onde
encontraríamos financiamento a título de subvenção? Imaginam VV. Ex.as o cenário de competição por vacinas
num mercado global, onde Portugal teria de enfrentar a concorrência de muitos países, alguns dos quais mais
fortes e poderosos? Conseguem, também, imaginar a dificuldade que o nosso País teria em contratualizar o
fornecimento destas vacinas e, mais, em obrigar ao cumprimento desses contratos?
Se a pandemia nos criou penosos e elevados esforços, facilmente poderíamos antever a dificuldade que
Portugal teria em ultrapassá-los, num cenário de União Europeia desintegrada ou descoordenada.
É, pois, de vital importância a aprovação deste instrumento.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, pelo Grupo Parlamentar do PSD, o Sr. Deputado Duarte Marques, para
uma intervenção.
O Sr. Duarte Marques (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados e Sr.as
Deputadas: Damos, hoje, um passo fundamental para a consolidação do projeto europeu. A União Europeia dá
um passo em frente na sua sustentabilidade, iniciamos um novo caminho na independência dos seus recursos
próprios e começamos a garantir a salvaguarda dos fundos estruturais.
Portugal devia ter sido o primeiro país a ratificar este acordo. Não o é e, provavelmente, só estamos aqui
hoje a fazê-lo porque, há cerca de três semanas, o PSD questionou o Ministro dos Negócios Estrangeiros sobre
esta matéria. Fazemo-lo depois dos croatas, dos cipriotas, dos italianos e até dos franceses, mas, Sr. Ministro,
mais vale tarde do que nunca!
A ratificação da decisão relativa aos recursos próprios é urgente, porque sem ela a Comissão Europeia não
pode ir ao mercado buscar os 750 000 milhões de euros que constituem a «bazuca europeia».
Há muitos que se esquecem, mas o orçamento europeu funciona como qualquer orçamento: tem receitas e
também tem despesas, e há faturas que têm de ser pagas.
Esta ratificação também prova que não há impostos europeus, pois são os parlamentos nacionais que
decidem.
São necessárias novas fontes de financiamento para o Orçamento da União que sejam suficientes para pagar
a dívida contraída para o fundo de recuperação. Com esta decisão, a União Europeia passa a poder cobrar uma
taxa sobre os plásticos.
Para o próximo quadro financeiro plurianual, depois de 2027, o custo da dívida será na ordem dos 15 000
milhões de euros anuais. Não é aceitável sobrecarregar os cidadãos europeus com mais impostos, que é o que
aconteceria se se aumentassem as transferências nacionais, mas também não é aceitável cortar o orçamento
em 15 000 milhões de euros anuais, pois sabemos que tal prejudicaria a política de coesão e a PAC (política
agrícola comum), que são essenciais para Portugal.
Quem não paga deve pagar, por isso uma taxa sobre o gigante digital será, no futuro, bem-vinda. Quem polui
não pode sair beneficiado, por isso o mecanismo de ajustamento do carbono nas fronteiras é essencial no futuro.
Estas novas receitas, umas agora e outras depois, assim como a taxa sobre as transações financeiras, só
funcionam se forem adotadas, no mínimo, a nível da União Europeia e não pelos Estados-Membros,
individualmente.
Falam da «bazuca» como a solução para todos os problemas, mas a verdade é que hoje é que se verá quem
é, de facto, responsável e quer ter receitas e também quer ter despesas.
Outros querem recorrer à «bazuca europeia» para tudo, mas não a querem financiar. Defendem o
investimento na agricultura, nas infraestruturas e na Europa social, mas são contra o aumento dos recursos
próprios.
Esta consequência para financiar este pacote de ajuda é cortar nas políticas estruturais, é cortar no apoio à
agricultura, é cortar na coesão territorial. Não aprovar o aumento dos recursos próprios é condenar estas
políticas estruturais da União Europeia.
Mas, Srs. Deputados e Sr.as Deputadas, nós não podemos culpar a Europa por usar mal os fundos, porque
somos nós que gastamos e somos nós que aplicamos.