I SÉRIE — NÚMERO 43
52
trabalhadores. As últimas notícias apontam para o despedimento de 500 trabalhadores, o que significa que todo
este cenário é absolutamente inaceitável.
O Governo do PS está a criar todas as condições para que a empresa, à semelhança de muitas outras, no
passado, possa ser entregue a grupos económicos ou financeiros estrangeiros, com objetivos de maximização
de lucro que são contrários à defesa das necessidades de produção nacional e de desenvolvimento do País.
Tudo isto com os riscos de descaracterização ou, mesmo, de destruição da empresa, como se verificou com
outras empresas do nosso País, sendo um dos exemplos mais flagrante o da Sorefame (Sociedades Reunidas
de Fabricações Metálicas), cuja fatura do seu desaparecimento ainda hoje pagamos.
Para o PCP, têm de ser tomadas todas as medidas para garantir a continuidade da atividade da empresa,
para assegurar todos os postos de trabalho e para colocar a produção da Efacec ao serviço das necessidades
de desenvolvimento da região Norte e do País. Mais do que resolver o problema dos bancos que têm créditos
da Efacec, o que é preciso é garantir à Efacec a liquidez para cumprir os seus compromissos — com os seus
trabalhadores, com os seus fornecedores e no investimento — e colocá-la ao serviço do País, com uma gestão
pública. Para o PCP, a nacionalização definitiva da Efacec, resolvendo os problemas de tesouraria, garantindo
os direitos dos trabalhadores, integrando-a no setor empresarial do Estado e num projeto de desenvolvimento
nacional, é a solução que se impõe.
Por isso mesmo, propomos e apresentamos um conjunto de propostas associadas a esta apreciação
parlamentar: desde logo, a manutenção da gestão pública, do controlo público da Efacec, a sua nacionalização
definitiva; a salvaguarda de todos os postos de trabalho e de todos os direitos dos trabalhadores, contratuais e
adquiridos, individuais ou coletivos, nomeadamente a retribuição, a antiguidade, a categoria profissional, o
conteúdo funcional e os benefícios sociais adquiridos por estes trabalhadores; a elaboração e a implementação,
pelo Governo, de um plano de desenvolvimento, de modernização e de sustentabilidade da empresa, articulada
com as necessidades nacionais e com as potencialidades na exportação de bens e de serviços.
A defesa dos interesses do País e da nossa produção, a defesa dos postos de trabalho e dos direitos destes
trabalhadores são inseparáveis da manutenção da Efacec no controlo público e da sua nacionalização definitiva.
Aplausos do PCP.
Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente António Filipe.
O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra, para apresentar a apreciação parlamentar do Bloco de Esquerda,
a Sr.ª Deputada Isabel Pires.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A Efacec é a mais antiga e a mais
importante empresa tecnológica portuguesa, com cerca de 2500 trabalhadores e com presença nas áreas da
energia, do ambiente e da mobilidade em mercados nas mais variadas geografias.
No entanto, a empresa tem uma história conturbada desde que o Grupo José de Mello e a Têxtil Manuel
Gonçalves decidiram vender a maioria das ações da empresa a uma sociedade controlada pela filha do ex-
Presidente da República de Angola José Eduardo dos Santos. O ano de 2020 confirmou, em toda a linha, o
risco, para esta empresa estratégica, criado pela entrada, no seu capital, de uma «personalidade politicamente
exposta» associada, há vários anos, ao branqueamento de capitais ligados à corrupção em Angola, o que
suscitou questões, por parte da própria Comissão Europeia, ao Governo português logo em 2016.
A 27 de março, foi assinado um memorando de entendimento em que a acionista Isabel dos Santos aceitou
a passagem do controlo do processo de venda para os bancos que a financiaram na compra da empresa, em
2015 — o Montepio, o BPI (Banco Português de Investimento) e o BIC (Banco Internacional de Crédito) —, e
para os bancos credores da Efacec — a Caixa Geral de Depósitos, o Novo Banco e o BCP (Banco Comercial
Português). O processo de venda da empresa foi lançado, desde logo, com prazo para apresentação de
propostas até final de junho. A empresa enfrentava, na altura, um grave problema financeiro e dificuldades no
plano comercial e operacional.
Na sequência do caso Luanda Leaks, a determinação do arresto da participação de Isabel dos Santos levou
à situação de impasse na empresa, entretanto agravada pelo contexto de pandemia da COVID-19. Nesse
contexto, os trabalhadores da Efacec foram duramente atingidos por esta situação, não só pela extensão, por