19 DE FEVEREIRO DE 2021
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Ora, o que está a acontecer é que os espetáculos que não foram realizados estão a ser adiados com a
justificação de que não existem condições para os promover e muitas câmaras municipais não estão a fazer
programação face à instabilidade da situação.
No entanto, os artistas não podem continuar à espera de que os espetáculos sejam reagendados e este
expediente não pode continuar a servir como pretexto para adiar o pagamento de 50% do preço acordado, dado
que tal agrava ainda mais a situação económica dos artistas e das suas famílias.
Queremos garantir que os espetáculos não podem ser repetidamente adiados, prevendo a possibilidade de
qualquer uma das partes poder livremente opor-se ao reagendamento do espetáculo, devendo ser efetuados os
devidos pagamentos.
É urgente assegurar os direitos dos artistas e outros profissionais em caso de cancelamento dos espetáculos.
Assim, nos casos de reagendamento, e sem prejuízo da nova calendarização do espetáculo, o promotor deve
garantir que, na data em que este se encontrava inicialmente agendado, é pago um montante mínimo de 50%
do valor contratado, devendo o remanescente ser pago na data reagendada, tal como previsto inicialmente. Nos
casos de cancelamento, o promotor deve proceder ao pagamento integral do valor contratado.
Por fim, ocorrem situações em que as entidades públicas adiam os espetáculos, não procurando formas
alternativas para os realizar. Por isso, propomos que, no período de vigência destas medidas legislativas, deve
o promotor, quando se tratar de uma entidade pública, proceder à adaptação do seu formato com o objetivo de
garantir a realização do mesmo.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, em nome do CDS-PP, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Rita
Bessa.
A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: As medidas restritivas adotadas para
o combate à COVID-19, ainda que necessárias, continuam a produzir um efeito devastador nas indústrias
culturais e criativas, a par de outros setores relevantes da nossa economia.
As circunstâncias em que se desenvolve o trabalho cultural deixam os seus agentes particularmente
vulneráveis aos impactos da crise pandémica e aumentam a volatilidade e as desigualdades pré-existentes
neste setor, que luta agora, desesperadamente, para sobreviver.
Para que se tenha uma visão alargada da situação, o relatório da consultora Ernst & Young, divulgado no
passado dia 26 de Janeiro, Rebuilding Europe, The cultural and creative economy before and after the COVID-
19 crisis, indica uma perda de receita nas artes performativas de 90% e na música de 75%, estimando que o
setor europeu da cultura deverá ressentir-se dos impactos da pandemia durante a próxima década.
Segundo este estudo, a cultura foi mais afetada do que a indústria do turismo e apenas marginalmente menos
do que a indústria da aviação.
Conclui o estudo que, tendo em conta a sua fundamental contribuição para a economia em geral e potencial
para ajudar a União Europeia a sair da crise, o setor cultural e criativo deve estar no centro dos esforços de
recuperação da Europa e recomenda uma abordagem em três vertentes: apoio público, a captação e a promoção
do investimento privado e um quadro jurídico sólido para permitir revitalizar a economia criativa e salvaguardar
o seu crescimento a longo prazo e alavancar a força do setor, multiplicando os seus milhões de talentos
individuais e coletivos.
Está também a decorrer um outro estudo, este centrado em Portugal, coordenado pelo Prof. Manuel Gama,
da Universidade do Minho, que tem vindo a medir a forma como a pandemia está a afetar o setor no nosso País.
A sua conclusão prevê-se para março, mas há já dados preliminares avançados que dizem que — e cito —
«para além das perdas imediatas que, nas medidas transversais e setoriais, não estão a ser capazes de dar
uma resposta global, no final de 2020 poderemos assistir, não só a um agudizar da precarização, como a um
incremento no desemprego de profissionais do setor cultural que antes tinham contratos de trabalho».
Infelizmente, comprovou-se que, apesar do impacto tremendo da pandemia no rendimento imediato dos
profissionais do setor, as medidas de apoio, continuadamente anunciadas e que, supostamente,
consubstanciam a resposta musculada do Ministério da Cultura, não são adequadas ou não são suficientes face
à realidade dramática que o setor vive e que foi novamente agravada pelo atual confinamento de base nacional.
Neste entendimento, o CDS viabilizará todos os projetos em discussão para que possam baixar à Comissão
e para que aí, em sede de especialidade, possam ser ajustados, corrigidos ou melhorados consoante os casos.