I SÉRIE — NÚMERO 46
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O Sr. Presidente: — É a vez do Grupo Parlamentar do PSD.
Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Carla Borges.
A Sr.ª Carla Borges (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A todos saúdo e, em nome do PSD,
cumprimento os autores das iniciativas que hoje apreciamos.
Antes de mais, importa lembrar o caminho que nos trouxe até aqui. Quando foi declarado o primeiro estado
de emergência, as medidas extraordinárias e de caráter urgente aplicadas passaram, inevitavelmente, pelo
cancelamento de todas as atividades culturais e artísticas e encerramento de instalações. O setor parou, sem
respostas, sem apoios, sem saber como iria sobreviver, clamando por ajuda!
A pandemia expôs, assim, da pior maneira, de uma forma cruel, as enormes fragilidades do setor cultural,
arrastando para o limbo milhares de vidas.
Para nós, PSD, desde sempre foi evidente o caminho a seguir. O Ministério da Cultura tinha de intervir e
tinha de o fazer rapidamente, com medidas específicas de apoio à cultura, mas, em vez disso, vem a Ministra
da Cultura a terreiro defender a transversalidade das medidas, reafirmando-o vezes e vezes sem conta.
A cultura continuou órfã, órfã de quem deveria ser o primeiro a vir defendê-la!
O Sr. Adão Silva (PSD): — Muito bem!
A Sr.ª Carla Borges (PSD): — Mas chega o verão e, com ele, a pressão da pandemia diminuiu. A vida
interrompida era retomada, mas o setor cultural continuava parado.
E, uma vez mais, o Ministério da Cultura demonstrou não estar à altura dos desafios que a pandemia
carregava, revelando-se incapaz de ser criativo, inovador e não se empenhando na procura de soluções.
Alguns disseram que para este Governo o setor estava esquecido. Eu direi: nunca foi lembrado! Não foi
lembrado quando, apesar de outras atividades terem retomado, este continuou parado!
Mas, pior: foi ignorado! Foram ignorados os carrinhos de compras que recolhiam bens alimentares à porta
dos teatros, as plataformas cívicas de intervenção, as manifestações, os pedidos de reunião.
Mas, Sr.as e Srs. Deputados, nem tudo foi esquecido: não foi esquecida por este Governo a cobrança indevida
das contribuições à Segurança Social!
E, pior: a Sr.ª Ministra, numa total demonstração de falta de respeito pelo setor, jocosamente, convida a
comunicação social para um drink!
Sr.as e Srs. Deputados: Este Governo e o Ministério da Cultura foram a cigarra desta narrativa, que não se
quis preparar para o inverno que estava a chegar. Incapazes de antever a imperiosa necessidade de criar
medidas de apoio ao setor quando a pressão da pandemia era menor, tornando assim possível o seu
robustecimento, ajudando-o a estar melhor preparado para enfrentar tempos mais difíceis, nada fizeram!
Continuaram num profundo estado de negação, cristalizados e altivos, como sempre, esquecendo-se que a sua
função é servir, esquecendo-se que o seu dever é para com todos, mas, acima de tudo, para com os mais fracos.
Mas o PSD nunca se conformou, nem baixou os braços. Por isso, apresentámos um projeto de resolução
propondo a afetação ao setor cultural e criativo nacional de um valor não inferior a 2% das verbas europeias do
Programa de Recuperação e Resiliência.
Esta proposta do PSD, altamente ambiciosa, claramente alinhada com a estratégia definida pelo Parlamento
Europeu e pela Comissão Europeia, que o Governo português teima em ignorar, é uma verdadeira bazuca para
a cultura, não deixando ninguém para trás.
Mas, em dezembro, também como na fábula, chegou o inverno e com ele o novo estado de emergência e,
novamente, o desespero de quem já não vive, mas sobrevive!
O Governo, em conferência de imprensa, com pompa e circunstância, apressou-se a anunciar medidas de
apoio à cultura, parecendo até que estava a anunciar o fim da pandemia e não um novo confinamento. E, mais
uma vez, o Ministério da Cultura, atropelado pelo momento, empurrado pela pressão da pandemia, foi incapaz
de criar soluções estruturais. Revelando um total e absoluto desconhecimento do que se passa à sua volta,
apresentou um pacote de medidas avulsas, correndo, dissimuladamente, atrás do prejuízo, tentando corrigir o
erro de subfinanciamento do último concurso de apoio às artes e cinema.